A INGRATIDÃO

 

                    Falar de gratidão é uma coisa muito legal, sem dúvida alguma, ainda mais pelo que o mundo todo passou com esta Pandemia. Mas vou falar justamente do contrário; que é a ingratidão. Muito além do que simplesmente não ser grato, a ingratidão traz implícito no conceito, uma forma de pensar, uma negação, uma indiferença, e muitas outras coisas.

                O homem contemporâneo já não se considera como um herdeiro. Liberto de uma herança cultural que julga aprisionante, só se volta a ela para justificar a superioridade da consciência atual. Órfão do passado, o homem de hoje acaba por se enredar em inevitável e danoso narcisismo. Posso ainda formular a seguinte pergunta: Ao desvincular de forma tão intensa o ser de sua herança, estaremos, como acredita nosso tempo, mais lúcidos, mais abertos, mais livres ?

                Os grandes temas do mundo moderno ou contemporâneo como por exemplo a nova onda nazista que teima em retornar sob a forma de grupos e seitas horrorosas, a condição das minorias na nossa sociedade ( e isso dá muito pano para um outro texto ), a influência poderosa dos meios de comunicação, o moralismo, o politicamente correto etc.

                 O que têm isso tudo a ver com ingratidão? Muita coisa. Estamos sofrendo atualmente as consequencias desta transformação sem fim que estamos vivendo. Aliás vivemos de rupturas. E essas disrupções ( para usar uma palavra da moda ) estão verdadeiramente nos deixando atordoados. Poderíamos falar que a grande culpada é tecnologia e a computação; os aplicativos viraram os negócios de cabeça para baixo ( que o digam os taxistas ); mas isso não é tudo e não podemos de forma alguma nos reduzir a esse ponto.

                  As consequencias sociais, econômicas, psicológicas e enfim aquilo tudo que nos cerca e que nos faz parte de uma sociedade que luta para evoluir, preservar e se adaptar. Acontece que temos um passado, e isso nos é muito caro. Tentar simplesmente esquecer ou até mesmo negar toda uma história e um caminho que percorremos e avançamos a duras penas, é o típico erro, como referi no início, típico do homem contemporâneo.

                   Não sejamos ingratos. Nossa dívida com o passado é enorme, e devemos o que somos a este passado. Para evoluir e avançar precisamos avaliar nosso erros e acertos passados, precisamos lançar este olhar e saber que não podemos repetir erros ( que na nossa vida prática chamamos de experiência ), precisamos saber porque acertamos, e sobretudo agradecer as vitórias e conquistas que nos permitiram chegar até aqui.

                   Não irei me alongar aqui neste texto sobre nossa herança cultural; farei isso em outra ocasião; me parece mais importante dizer que a gratidão acima de tudo nos faz mais humanos, mais solidários, mais tranquilos e no final das contas mais felizes. Portanto não seja ingrato, mesmo que não consiga ser grato, lembre-se que ainda estamos vivos e com saúde por uma dívida aos homens de ciência que nos proporcionaram as vacinas que nos salvaram do vírus da Covid, que devemos ser gratos a uma entidade superior ( seja a qual Deus que você acredite ou mesmo que não acredite em nenhum ).

                   Eu acredito que podemos nos redimir de nosso erros e fracassos e mesmo de nossa vitórias e conquistas apenas retomando nossa caminhada desde o princípio; veremos que estaremos praticamente sempre em dívida com alguém, desde os nossos pais, professores, amigos, colegas, líderes ou algum genial ser que cruza o nosso caminho e que nos leva a pensar que não somos ninguém neste mundo sem a preciosa ajuda do próximo...


                       Por Ademir Silva

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