A cachorra e a funerária



Quando adotei minha vira-latinha da zoonoses, a Nana, ela era bem pequenininha. 
Chegou meio doentinha, com muitos parasitas e muita energia também. 
Comia sandálias, roía as roupas que estivessem na roupa suja, puxava a manta e fazia um auê.

Um dia cheguei em casa e o perfume de bosta estava insuportável. Procurei por todos os cantos e não achei. 
Uns dois dias depois, inconformada, levantei colchão e cama. a minha surpresa: ela encontrou um buraquinho no forro debaixo da minha cama. Entrou lá e fez o número dois.
Que vontade de matar!

Arranquei tudo e joguei fora, claro. 

Quando ela já estava mais crescida, eu decidi passar um fim de semana em Pirenópolis, cidade histórica próxima de Brasília, e pedi à minha mãe para ficar com a Nana.
Fui embora e voltei no dia seguinte à tardinha.

Quando entrei na casa da minha mãe, que estava com meus primos de Bruxelas como visita, todo mundo ficou me olhando com aquela cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

Falei com todo mundo, beijei a minha mãe e chamei a cachorra para ir embora. Nessa hora, a minha mamãe ficou meio congelada. Aí, eu desconfiei e perguntei: 
-Cadê a Nana, mãe.
-Eu abri o portão e ela fugiu.
-Agora?
-Não. Ontem. Logo que você saiu.

Meu espírito calmo explodiu. Saí vociferando. Só não xinguei o povo de santo nem de rapadura.

Saí procurando a bichinha e nada. Já tinha um dia e meio que ela estava sumida, então imaginei o pior. Andei por todos os lados ali perto da casa da mamãe e nada.
No dia seguinte, fui trabalhar e não conseguia ficar calma. Avisei ao chefe que estava me sentindo mal e saí depois do almoço.
Voltei para o bairro e decidi procurar no comércio, que estava fechado no dia anterior, mas na segunda-feira abriu. Tinha boteco, açougue... Fiquei esperançosa.

Andando perto da padaria, vi um cachorrinho pretinho. Igual a ela. 
Chamei, ela olhou. 
Veio correndo.
Estava com umas feridinhas. Mas o moço da funerária me disse que ela havia aparecido ali no sábado. Ele ficou com pena, alimentou e ficou com ela.
Meu coração ficou muito feliz e agradecido. 
O moço da funerária alegrou meu dia.
Ela ainda aprontou umas e muitas. Fugiu, deu corrida numa idosa, mas nunca mais desapareceu. Viveu comigo durante 13 anos.
Foi feliz. Fui muito feliz. 

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