Nos loucos anos 1980, quando eu era apenas uma criança sonhadora, havia o boato de que o mundo acabaria nos anos 2000.
Minhas amiguinhas e eu fazíamos as contas: - inocentes, acreditávamos que a morte nos alcançaria quando tivéssemos 26 anos.
Eu imaginava que não teria tempo de fazer todas as coisas que queria. Viajar pelo mundo, fazer mestrado e doutorado, ter um carro conversível, me tornar poeta, cuidar da minha família, ter um filho e viver até ser uma avó que fazia os melhores
Biscoitos. Como a minha avó Nica.
Como eu comecei pelo filho, e descobri que o mundo não ia acabar, decidi que o meu tempo seria dedicado a me formar, ser uma profissional reconhecida e a cuidar da família.
A segunda filha chegou um ano antes do tão proclamado fim do mundo.
Matheus já tinha seis anos e eu comecei a perceber que o tempo era impiedoso.
Passa tão depressa, que muitas vezes não temos tempo de viver como planejamos.
Eu optei por ter tempo de qualidade com as minhas crianças. Abracei e beijei bastante. Curti cada risada, cada palavra errada, cada erro e cada acerto.
Claro que dei uns gritos nas orelhas dos dois abençoados. Mas, em geral, éramos cúmplices nas farras e brincadeiras.
Moramos na casa da minha mãe por muitos anos, o que me permitiu curtir (e brigar) com ela enquanto via o tempo passar rapidamente nos olhos dela.
Hoje, caminhando pela praia, aqui em Alagoas, vi coqueiros derrubados pela ação da água e do tempo.
Me veio o pensamento: ora, ora! O tempo alcança tudo e todos.
Ninguém estará livre das rugas, das gordurinhas, das dores nas “juntas”, de acordar quebrado ou de simplesmente contemplar sua vida com os olhos no passado.
Sabendo disso, e da crueldade veloz do tempo, eu olho para trás e vejo cada brinquedo espalhado, cada risada de criança, cada erro dos adolescentes e os acertos dos meus adultos filhos e penso que sou feliz demais.
Vivi até aqui. Tive tudo o que eu quis. As rugas, apesar de eu não gostar delas, são consequência dessa vida de lágrimas e sorrisos.
Por hora, só quero viver um pouco mais para abraçar aqueles que amo ainda mais, ver meu pai por mais alguns anos, minha família e meus cães.
E tá tudo bem, tempo. Obrigada.
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