O dia em que eu fui no Jô


Em 2005, quando lancei o meu livro Operação Araguaia, os arquivos secretos da guerrilha, o tema era pouco discutido pela sociedade em geral.

Eu vinha há tempos juntando material sobre a guerrilha do Araguaia, e outros temas relacionados ao regime/ditadura militar e, o resultado foi uma obra incrível, de 656 páginas.
Eu sou grata ao Luiz Fernando Emediato que, quando conheceu o meu projeto de livro, o tornou financeiramente possível. Meu editor e amigo, obrigada.

Foram três anos de parceria até nascer o bebê-livro que abalou o Brasil!
Ninguém jamais havia visito documentos secretos oficiais como aqueles que eu publiquei.

O lançamento, em Brasília, teve uma fila de mais de duas horas. Diversos figurões e políticos brasileiros  estiveram presentes.
Foi a glória para a menina que cresceu numa vila militar e que precisou se reinventar aos 16 anos de idade!

Eu havia vencido e chegado ao ápice do que que desejei antes mesmo de me formar na faculdade de jornalismo. 
Me tornei uma jornalista investigadora!

Ficamos durante Algumas semanas entre os mais lidos da revista Veja. Na época, uma revista importante.
Um dia, uns dois meses depois do lançamento, o Emediato me liga dizendo que estávamos convidados para o programa do Jô.
Meu Deus!
Meu senhor Jesus! “É nóis”!

Fomos a São Paulo gravar. No estúdio, me maquiaram, arrumaram meu cabelo e eu, que havia convidado um colega de SP para me acompanhar, estava tão nervosa que minha vontade era sair correndo. O Bayard tentava me acalmar e eu só pensava em fugir. Sorte que o programa não era ao vivo!

Chegada a hora da gravação do meu bloco, a moça da produção avisou: - sente-se ao lado do Jô!

Eu, que sempre assistia ao programa, sabia da mania dele de segurar nos braços dos entrevistados. Sentei e a primeira coisa que senti foi uma mão gordinha suada no meu bracinho esquerdo magricela. Eu odeio que peguem em mim e para não parecer rude, me mexi na poltrona e encolhi o braço. Se fosse hoje, eu deixaria o braço lá.

Aqueles foram os dez minutos mais legais da minha carreira! Minutos que só foram superados um ano depois, quando peguei a estatueta  de melhor livro-reportagem, do prêmio Jabuti. 

No dia em que o João Soares faleceu, senti uma enorme tristeza, e também uma ótima lembrança do dia em que me sentei na poltrona do seu programa e o vi prestar atenção na minha história.

O meu maior lamento foi não encontrar as fotos e nem a fita onde gravei a entrevista com o melhor entrevistador que esse país já teve. 

Descanse em paz, Jô Soares. Obrigada pelas divertidas noites em sua companhia e por levar a guerrilha do Araguaia ao conhecimento de muitos na noite em que nos conhecemos.
E principalmente, por me fazer me sentir tão útil e feliz!


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