Imagine que você sempre teve um sonho de conhecer a Itália. Planejou, colocou no papel e cada dia que amanhecia, o que te fazia levantar da cama, era concretizar esse desejo profundo. Se via ali, cercada de felicidade conhecendo a Sicília, Úmbria, Veneza, até um curso de italiano você faz, para que a hospedagem fosse perfeita, ah sim, na verdade não seria uma hospedagem, você está se programando para morar na Itália.
Então depois de alguns anos, lá vai você, feliz ao Aeroporto, com a passagem em mãos, sabendo o quão difícil foi, mas enfim, está ali, pronta para realizar o sonho de vida.
Entra no avião, coloca o cinto, usa aqueles “óculos” de tecido à lá “Audrey Hepburn” e relaxa em meio às nuvens até chegar ao seu destino.
Logo na chegada ao aeroporto de Roma, percebe algo bem diferente do que sempre viu, estudou em toda sua caminhada “teórica” ao lugar. Onde estão as pessoas falando italiano, parece que está num sonho. Onde está o Aeroporto Internacional Flumicino, Metropolitan City of Roma, onde raios você foi parar?
Demora alguns longos minutos para se localizar, já que o lugar não é seu conhecido, nem sabe o que aconteceu com a rota que o levou à outro lugar. Deve ser um pesadelo, você deve estar dormindo, claro!
Mas não, o suor começa a percorrer seu corpo, a inteligência parece escapar pelo seus dedos e você procura o balcão de informações para saber o que está acontecendo.
Senhora, bem-vindo à Holanda! - Holanda?!? o que estou fazendo na Holanda se meu vôo era para a Itália?
Gentilmente, eles te colocam sentada, te trazem um copo d´água e você percebe o olhar caridoso que te entregam, explicando que a vida não avisa, mas que infelizmente, sua parada é ali. Você chora, tenta explicar que não, deve estar acontecendo algum engano, não foi para isso que você se planejou durante sua vida, trabalhando durante anos e aguentando todas as interpéries necessárias, que vendeu todas as suas coisas para que nesse momento estivesse na Itália, não Holanda!
Os atendentes se olham entre si com um sorrisinho inquieto nos lábios e tentam te acalmar.
Quem foi que mandou para cá! Quero falar com o responsável dessa bagunça que estou vivendo! Vocês são responsáveis por esse erro! - diz você quase arrancando os cabelos.
Veja bem, nesse momento você percebe ao redor e todos te olham com ar de dó e um carinho envolto nele. Você parece estar sob domínio de algum remédio estapafúrdio que não deixa seus pensamentos serem coerentes. Quero falar agora com o responsável! grita você.
Por uma porta entra uma senhora, elegante, com idade avançada, serena e plena, com a calma de uma brisa, cabelos bem penteados com uma cor prateada, estica a mão para cumprimentá-la. Você, agitada, estende rapidamente a mão e pergunta: por favor, a senhora pode me trazer o responsável, para que ele me explique o que está acontecendo e de quem foi o erro? A senhora tranquilamente, senta na cadeira ao lado, se serve de uma xícara de café, cruza as pernas e diz: “não há erro, mas fique tranquila, tudo ficará bem, você só precisa se acostumar, passar por alguns “bocados”, coisas necessárias para seu aprendizado, entende”?
Não, você diz, não entendo. Não foi isso que planejei, minha viagem não era para cá, a senhora não está entendendo! Eu quero falar com o responsável!!!
Senhora, quem não está entendendo é você. Agora seu mundo é esse e você terá que se adaptar, tem meios para isso, embora ainda não veja, esteja perdida e tenha que se acostumar. Mas vou te dizer que a senhora se sairá bem, tenha certeza!
E num ímpeto de raiva, com lágrimas nos olhos, você se levanta e grita, vociferando contra o rosto da senhora elegante: EU QUERO FALAR COM O RESPONSÁVEL!
Senhora, diz a senhora elegante de cabelos prateados - eu sou a responsável.
Você incrédula, pergunta: E eu posso saber qual o seu nome?
Muito prazer, meu nome é Vida. Seja muito bem-vinda!
Por Rachel Kizirian
Comentários
Postar um comentário
Deixe aqui a sua essência