Não adianta fugir, as crianças crescem.
No meu tempo... é, no meu tempo, a vida era mais sossegada, os perigos não eram tão latentes e o tempo parecia não ter asas. Ir à padaria ou na vizinha na quadra seguinte, era algo menos problemático que nos dias de hoje. A violência não era a mesma e as pessoas não pareciam serem tão más.
Ontem pela primeira vez, a pequena fez algo importante, sozinha.
Ela, como eu, sente falta da independência. Quer o quarto só para ela, saber resolver pendências do dia-a-dia, entender como tudo funciona e eu sei, embaralha tudo e assim, tudo parece um bicho-de-sete-cabeças e você, totalmente alheia ao mundo. É frustrante.
- Ju, você vai comprar ração dos gatos.
- Quando a gente vai?
- A gente não, tatu, você.
Ela me olha com os olhos arregalados e eu continuo.
- Vai coloca uma roupa, você vai, passa o cartão, pede 2kg de ração, a senha está aqui. Não quer se sentir útil? Pois então, aos pouquinhos, você vai aprendendo. Leva o celular e qualquer coisa me liga.
Ela me conta que estava nervosa. Vai com medo, mas vai.
Então lá foi ela com meu cartão na mão e sentindo a liberdade do vento no rosto, sozinha.
O avô, discretamente, ficou na calçada, mexendo nas plantas, eu ansiosa, claro.
São pequenas coisas que se tornam grandes. Grandes liberdades em pequenos atos, se sentir útil, vivo é tão bom.
Hoje ela irá ao primeiro "acampadentro" da igreja que frequentamos, na casa da minha xará. O nervosismo domina, ela que é super ansiosa. Principalmente o pai, está com o coração na mão.
Julho está diferente, pode até vir o frio que fôr, porque o coração parece estar bem aquecido.
O mês promete. E parece que a vida também...
Rachel Kizirian
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