Brincando com as palavras

  

Uma situação que eu sempre admirei, quando um cronista, brinca e se diverte com as palavras, num jogo magico de conhecimento, filosofia e arte principalmente, fazendo uma doce dança com as palavras, para que eles fiquem nas entrelinhas ou na sutileza de ver algo a mais em cada palavra descrita. Lembro sempre de um conto do Fernando Sabino de um garçom atendendo um cliente que só falava as palavras iniciando com F. É uma grande sacada! Ou como aquela frase “Para ir para lá, ela para no banco, senta-se em um banco no canto. Eu não banco, sai da conta, pois não é da minha conta, nem canto para ela, Ela conta a grana, faz cálculos como se levasse em conta os cálculos de sua vesícula. Ela conta com isso”. Ou esse joguinho de palavras do poeta: ”Morro no morro, no vale não vale, na mata só mata. No pico eu pico o pau que mata a cobra. Lá ninguém me cobra nada”.

A criatividade aliada ao conhecimento consegue inventar situações incríveis, acompanhada com um extenso vocabulário então, eu diria que somos privilegiados pela quantidade de significados de uma palavra no nosso idioma português. Isso sem precisar recorrer aos magicas significados que temos diante da imensidão de vocabulário de nosso país, onde devido a esta vasta legião de foragidos de outros locais, temos uma cultura impar com o nosso regionalismo. Quando morava no Rio de Janeiro costumava falar frases de efeitos regionais para ver a cara de incompreensão do outro, como: “Arrecém tive um cagaço, pois mirei um entrevero enorme, onde uma chinoca não parou o carro na faixa e nem na sinaleira e deu uma pechada no guri pilchado que tinha as bergamotas e butias no bolso e no outro piá que comia um negrinho, puxando um matungo velho lomba abaixo junto com o seu guaipeca e ainda tinha aquele gringo com guampa todo balaqueiro e atucanado e bem bagual e sem pila na fatiota e tudo isso na nossa querência”. Conseguiram traduzir e entender o bom gauchês?

Pois é, a linguagem sabia e fascinante que nos possibilita brincar com as palavras, mas como dizia Maria Quintana “A resposta certa, não importa nada. O importante é que as perguntas estejam certas” e eu tinha um professor na faculdade que sempre mencionava que quando mencionamos a palavras, isto é, significa que achamos que o interlocutor é burro e não entendeu o que a recém explicamos e acabamos falando com outras palavras novamente, o isto é, é a repetição da primeira frase de outra forma.

Este jogo de palavras, requer conhecimento de uso das palavras, mas também necessita de habilidade, afinal nossa linguagem é cheias de regras, de porquês e não compreender ou errar a concordância das palavras é tão feio como quem não é letrado e falar o bom português é para poucos, pois é enorme o desafio de nossa língua. Ou como relembra outra jogo de palavras eternamente, é ter na mente, éter na mente, ou então peça para ir a peça, que é uma peça, pois o elenco ilumina toda peça do cenário. E então, vamos ousar e brincar com as palavras?





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