Turista, mochileiro, selfista, perambulista ou aventureiro

Uma das questões sempre debatidas pelas empresas, para dar certo em um negócio é acertar o público alvo e isso vale para qualquer tipo de empresa, obviamente todo o segmento do turismo está inserido nesta classificação. Mas o turismo sempre está a margem do consumo, as pessoas querem muito em contrapartida reclamam muito de pagar, pois tudo que é tangível é mais fácil de dimensionar e aceitar um pagamento, como um chocolate, um sapato, uma joia ou mesmo um mimo adquirido numa viagem. Agora quando se refere aos bens intangíveis as pessoas tem muita dificuldade de aceitar um valor, pois a prestação de um serviço é mais difícil de mensurar. Quanto vale um atendimento?

Quando ministro aula de gestão de fila, sempre argumento que a fila quem deve decidir se quer ou não é a empresa que permita que isso ocorra. Muitos empresários querem fila sim, por exemplo uma boate ou mesmo um restaurante ao permitir uma enorme fila, sugere as pessoas que ali o produto é melhor, pois as pessoas estão em fila para disputar a entrada naquele distinto local. Em outros locais a fila acontece, por ausência de uma gestão ou incompetência e irresponsabilidade dela para gerir esta ação para as pessoas, o que acaba provocando frustação, raiva, decepção e até um sentimento de inferioridade quando você encara um fila que demora uma eternidade, seja num banco, numa fila para emprego, ou de um espetáculo que vai assistir ou mesmo numa fila de emergência. Fila é inconcebível!

Uma cena muito comum é em algumas datas, como a Pascoa, o dia das mães, o natal, a serra gaúcha estar lotada e não conseguir hospedar as pessoas, e impossibilitado de circularem na cidades, nos parques, nas lojas, onde os restaurantes todos estão lotados, não conseguem estacionar os carros e as vezes nem circular a pé pelas ruas, devido a multidão de pessoas que ali estão para comemorar a data festiva ali na cidade. Todos os empresários querem que os locais estejam cheios, mas não lotados, isso é horrível, pois atrapalha os seus negócios. Desta forma elevar preço é uma atitude comum (oferta e demanda) para tentar selecionar os clientes em seus estabelecimentos.

E dentre este planejamento feito pelas prefeituras e empresários para trabalhar e selecionar o público mais ideal, há um grande questão! Como impedir que um mochileiro, que vem com seu sanduiche, de um local próximo passeia, nada gasta, e fica a circular pela cidade, ocupando espaços deixa apenas o lixo na cidade, mas temos algumas divisões deste mochileiro, como o perambulista, que seria aquele que somente circula pelos locais, deixando um tumulto desnecessário pois além de nada consumir, só ocupa espaço, mas ainda temos os selfistas que vão a todos os locais para tirarem fotos suas e de seus acompanhantes nos pontos turísticos, ocupando empo e espaço de quem ali está a consumir e tem o vendista que aproveita a ida no local turístico para vender alguns objetos seus para os turistas que ali estão circulando pelo local.

Mas e o direito universal de ir e vir? Não podemos impedir as pessoas de circularem livremente pelos locais, nem de criarmos guetos exclusivos para uma elite e impossibilitar o acesso a monumentos e parques de uma parte da população, por esta não ter condição financeira de ali permanecerem. Ou vamos continuar numa contracultura inviabilizando a educação para a maioria das pessoas e estas jamais terão o desejo e a curiosidade de conhecer um museu. O que se pode fazer para atender a expectativa de ambos e conciliar a vontade de lazer de todas as pessoas. Ou ainda, não facilitar os acessos e segmentando e excluindo, não tendo a acessibilidade necessária para que um pessoa tenha as condições mínimas de acesso a algum lugar.

Como equacionar estas questões públicas e privadas e sermos desenvolvidos sem sermos excludentes em nossos momentos de lazer e cultura e nem radicais perante um lado da sociedade? Ou continuaremos com a variável preço a ser o fator de desequilíbrio e permanência em um determinado local? Eu comprei dentro de um parque da Disney uma boneca da Frozen pelo mesmo valor que a lojas cobravam na cidade, mas em Gramado uma lata de refrigerante num parque é R$10 reais, será este o divisor de aguas? Ou estabelecer um dia para cada público conhecer um local (diminuir o acesso de empresas como a CVC e outras similares só para durante a semana? Ou criarmos cotas para aqueles que não tem condições financeiras, num sistema de rodízios entre estas pessoas. Ou
permitir que todos circulem desenfreadamente e transforme Gramado numa nova Porto Seguro que teve seu auge no turismo, mas hoje é um destino turístico mais barato e para festas estudantis.

É uma decisão difícil. E nós na pele de empresários, como gostaríamos de fazer a escolha de um público para atender a expectativa. No turismo denominamos isso de capacidade de carga, ou seja, quando uma cidade não consegue mais comportar um número de turistas, uma sobrecarga de pessoas que ali estão e acabam inviabilizando o próprio passeio e acarretando desconforto e frustação no seu momento de lazer, que é o que está ocorrendo em Gramado. Ou apenas a elite é permitida fondue, lareira e chocolate quente. Mesmo se todos nós tivessem o salário suíço, o problema continuaria, de excesso de turista, ou fazer como algumas cidades turísticas europeias, onde o acesso a cidade é dos primeiros que ali consegue chegar, depois os demais ficam no aguardo.

Pois é, o turismo para todos, as vezes não possibilita esse viés universal da saúde, prazer e diversão de forma igual a todos;


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