Trabalhar com hotéis me permitiu conhecer
culturas, artes, locais e países diferentes, mas também me possibilitou acima de
tudo conhecer pessoas e isso é fantástico, como somos tão semelhantemente
diferentes nas ações, reações, atos e percepções e tenho comigo uma frase que é
de minha cabeceira da cama de Jung “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana!” É uma frase
densa, carregada de metáforas e significados, mas como a gente se surpreende
com o ser humano, e porque isso? E nesta estrada da vida, teve alguns personagens históricos que tive o privilégio de conviver, de conversar, de ouvir e admirar. Mas um
sempre me chamou a atenção quando falamos de humildade, da essência humana e da
felicidade fácil que temos
Há muitos anos atrás, eu trabalha num hotel, na pequena
cidade de Ijuí/RS, quando Jorge Bem Jor, foi lá realizar um show na festa da
cidade. Geralmente os artistas chegavam pela manhã do dia de sua apresentação,
descansavam, iam para o show e no outro dia levantavam cedo e continuavam suas viagens, para outros locais. Porem a banda chegou na segunda para o Show que
seria na terça, assim tiveram que passar duas noites no hotel, um fato raro de
acontecer. Em determinado momento, na tarde da chegada da banda, desceu um dos integrantes
e perguntou onde era o barzinho para eles irem a noite. Eu parei, pensei e
falei que segunda feira em Ijuí, no inverno não tem barzinho aberto depois das
21h. E eles ficaram dando risada e dizendo que eu não queria mostrar algum
local para eles e por fim decidiram se dividir e ir em grupos procurar algum barzinho.
Um tempo depois se reuniram novamente no saguão do hotel, onde estava toda
a banda com o Jorge Bem e ninguém tinha encontrado nenhum local para eles irem
beber a sua cervejinha. Eu já prontifiquei e falei que eles poderiam ficar no
restaurante do hotel, bebendo até a hora que quisessem, porém eles insistiam que queriam um
bar aberto e sair do hotel... Até que chegou um integrante da banda e relatou
que achou um barzinho aberto e legal... Eu olhei e ainda crédulo com a
descoberta, relatei que desconhecia algum local aberto e eles me convidaram
para irem juntos, então fui a pé com eles no bar citado.
Quando lá cheguei, cerca de três quadras do hotel, perto das 21h30 da noite, acompanhando
a banda, eu olhei e identifiquei que era um bar pé sujo. Era o “Chininha” de
Ijuí, um verdadeiro boteco de bêbados. Fiquei olhando e observando a todos ali
e eles sentaram todos ali felizes e já pegando os violões, cervejas e contando estórias...
O Bar é na frente da praça principal da cidade. É um lugar fedido e ali,
naquele lugar o Jorge Bem Jor, começou a tocar e a plateia, além de mim, dos músicos, havia uns seis bêbados ali reunidos, ficamos até quase as 3h da manhã. Por
final o dono do boteco tirou uma foto de nós todos ali sentados. Tempos depois revelou e colocou a foto
aumentada na parede atrás do balcão do bar e até hoje quando vou lá, está a
foto já amarelada na parede e eu apareço num cantinho da foto, com Jorge Bem
Jor, seus músicos e seis bêbados. Para mim ali ficou como um santuário. Eu
depois pensando, naqueles seis bêbados ali do barzinho, chegando em casa e
contando isso para seus familiares, que cantaram no boteco junto com Jorge Bem, ninguém
acreditaria... Mas a foto está lá como registro.
Naquele
espaço de tempo de quase 5horas com aquele pessoal, rolaram muitas conversas, estórias,
risadas, musicas, mas acima de tudo, muitas lições de vida. Escutar Jorge Bem ali
dizer que estava muito feliz, que a vida é simples, ter amigos, uma cerveja, um
som e como está escrito na letra da música dele “Sou
um menino de mentalidade mediana. (Pois é) mas assim mesmo sou feliz da
vida. Pois eu não devo nada a ninguém. (Pois é) pois eu sou feliz.
Muito feliz comigo mesmo”.
Sempre faço uma reflexão desta busca do conceito de
felicidade, porque nunca se contentamos com o que temos e lembro também uma
frase dele de aproveitar cada dia, cada hora, cada momento e comemorar, não
deixar para depois, ou para quando tiver um bem ou objeto que queremos, mas o
segredo da vida é sentir prazer e as pequenas coisas que muitas vezes não se dá
o valor necessário, é nelas as vezes que estão alguns dos maiores prazeres. E
completou me perguntando: Faça uma reflexão e pense em 10 momentos ao longo de
nossa vida, que fostes mais feliz e o quanto tinha de valor inserido naquele
fato... Fiquei a pensar, em momentos de felicidade: O nascimento de um filho,
um gol de teu time na final do campeonato, um beijo de conquista na namorada.
Coisas simples! E por fim ele me disse uma frase “Não
perca a estranha mania de ter fé na vida...”
Assim, quando estou em um momento não tão
feliz, sei que é um ciclo, que logo vai melhorar se eu assim quiser. E penso: Vá buscar a
felicidade ao teu redor.
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