Narrativas Tóxicas


Acredito que quase todo mundo acompanhou, ou apenas ficou sabendo, do tapa que o ator norte-americano Will Smith deu no colega Chris Rock.
Logo cedo, o site de notícias G1 - campeão de erros grosseiros - já havia publicado memes e Gifs da "treta" em questão.
Não creio que seja papel de um jornal publicar memes, mas hoje em dia, a narrativa jornalística vem se perdendo e, também, se confundindo com a opinião de jornalistas. Aliás, opiniões e discursos dos mais equivocados, radicais e diversos são o que mais tenho visto nestes tempos de Internet de todas as coisas.

Não vou emitir nenhum juízo de valor sobre o ocorrido na noite do Oscar, mas vou falar de algoue percebi nas pessoas que publicaram e comentaram o tema. A primeira delas é a ausência de empatia com a esposa do Will, quem realmente foi ofendida. Em segundo lugar, o estado emocional do Smith. Não foi a primeira vez que Chris Rock usava de humor tóxico para atingir o colega. Ninguém sabe a luta interior do ofendido. Afinal, todos nós temos limites. Talvez o limite ali tenha sido ultrapassado.

Em terceiro lugar, não li nenhuma linha sobre o fato de algumas pessoas usarem da "piada" e da "brincadeira" para ofender as outras. E a desculpa vem sempre sob o manto do "era brincadeira..." 

Vivemos em tempos de narrativas tóxicas. Tudo precisa ser politicamente correto, sem ironia, sem sarcasmo e sem qualquer acusação, mesmo que verdadeira, pois a maior parte das pessoas se ofende fácil demais. E essas mesmas pessoas utilizam artifícios e narrativas tóxicas para jogar culpas infundadas sobre os ombros alheios.

Estamos cercados de gente com a boca e o coração tóxicos, e é esta gente que julga, mente e transforma os ambientes em lugares doentios. Essa gente é aquela que comenta nas redes sociais de todo mundo, destila ódio e ideias enviesadas, mas na hora de aceitar comentários, bloqueia quem discorda e ainda afirma que na timeline dela quem manda é ela.

Estamos cercados de juízes que sentam sobre seus rabos e escondem seus defeitos para falar e julgar a vida alheia.

Estamos fartos de perceber os vieses invisíveis e a falta de imparcialidade perto de nós e não abrimos a boca para combater. 

Sou a favor do Will Smith. Não acho que a violência seja aceitável em nenhuma hipótese, mas como eu disse antes, é preciso analisar o histórico e se colocar na pele do outro. Mas quem quer fazer isso? Afinal, somos aquele tipo de povo que provoca engarrafamento porque não quer estacionar o carro um pouco distante na hora de buscar os filhos na escola.

Eu só sei que estou farta de ouvir narrativas tóxicas travestidas de brincadeiras.
E você?

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