O dia que Santiago testou minha fé - parte 2

Como eu estava contando, meu primeiro dia no Caminho de Santiago foi um teste à minha fé.
Já na fronteira da França com a Espanha, me distraí e não vi uma pequena entradinha para a cruz de ferro onde ficava a fonte de água.

Eu havia levado dois litros na minha mochila Camel Back e mais uma garrafinha. Só que era julho e, apesar de nem estar muito sol, fazia calor. A subida íngreme dos Pireneus te convida a beber água. Fiz as contas e, se eu tivesse chegado na fonte de água no tempo certo, eu poderia recarregar os recipientes tranquilamente.

Contudo, minha admiração pela paisagem pitoresca e um deslize na observação do caminho dos outros poucos peregrinos, me levaram pela estrada para uma linda fazenda e o que parecia ser um castelo em ruínas....

Erro percebido, voltei. Acontece que 2kms errados para quem está a pé com uma mochila pesada nas costas, faz muita diferença. A claridade começou a cair e com as sombras, meu desespero. O celular não tinha sinal. Subi uma montanha ao lado de uma cerca, que me parecia apontar a fronteira entre os dois países. joguei as coisas no chão e, à moda antiga, dos telefones analógicos com antena, comecei a procurar sinal.

De repente, piiiiiii, um aviso de que eu tinha conseguido um sinal. Mas era um aviso da operadora francesa que dali em diante eu estaria usando roaming... =(
Teclei os números da central do peregrino para pegar as coordenadas e .... nada. Sem sinal.
Notei que o serviço de ligação de emergência estava ativo e pah! Sem pestanejar chamei a emergência.

A atendente, muito solícita, me pergunta onde eu estou. Num espanhol bem claro explico que não sei muito bem. Dei todas as características do local, falei da cerca de arame e da fazenda que eu via de cima.

Mal sabia eu que ela não estava entendendo quase nada, pois ela falava o dialeto basco!
Perguntei se ela falava francês, inglês e nada.
Aí, ela tem um estalo e diz: passe sua localização para o meu telefone!
Eu pensei: Ufa, estou salva!
Anotei o número e desligamos.
Ao tentar mandar a localização, não tinha como. EU CONTINUAVA sem rede! rsrrsr
Liguei de novo e com calma expliquei o caminho que eu havia feito.
Ela disse: Olha, vamos tentar te achar. Não se mova.
Dois litros de lágrimas depois e sem água para beber, escuto um barulho bom e avisto a caminhonete dos bombeiros bascos chegando.
Levantei num só pulo! Eles pararam, me deram uma garrafa de água e pegaram minha mochila no chão. 
Quando entramos no carro, eu só me lembro de pensar: - Ai, Santiago, muito obrigada. Mas que vergonha... Não dava para enviar uns bombeiros feios, não?

Um deles me perguntou se eu queria voltar pelo caminho correto para ver onde eu havia errado. Eu respondi que sim. Eles foram me contando que muita gente se perde, principalmente no inverno, mas que eles só não encontraram uma pessoa. Uma brasileira que simplesmente sumiu.

De repente....

Continua na próxima semana!
na foto, na subida dos Pireneus, antes de me perder.

Comentários

  1. Ah, que experiência. Lost in Santiago e achada pela mão dos valorosos bombeiros. Tomara que tenha rezado depois por achá-los "bonitos" apenas. Eram os valorosos homens do fogo.

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