ON THE ROAD

 

                Comecei finalmente a ler o clássico livro On the Road, de Jack kerouac, o franco canadense nascido no Massachusetts,  e imediatamente me veio a mente algumas viagens que eu fiz em busca de um significado para a existência. 

            Kerouac escreveu para o amigo Cassady em uma carta de 1951: A história é sobre você e eu e a estrada. Nada mais. E foi com essa aparente simplicidade que On the Road se tornou um clássico que vai sendo desbravado geração após geração, contrariando rótulos que apequenam este monumento literário da contracultura do pos-guerra. Ao cruzar os EUA de carro Jack Kerouac e Neal Cassady empreenderam a viagem que todo o jovem um dia sonha em fazer, repleta de garotas, bebidas e acima de tudo, de liberdade. E eles atravessaram os EUA de ponta a ponta através da lendaria Route 66 e inaugurando assim neste livro um novo tipo de prosa, sincopada ao estilo do jazz, ela une a realidade ao sonho, uma espécie de busca espiritual. Se você não leu, leia.

            O movimento Beatinik surgiu nos EUA em meados dos anos 50 e 60 do século passado, subscrevendo um estilo de vida antimaterialista na sequência da segunda Guerra. Depois desta Pandemia me pergunto sinceramente se não deveríamos retomar estas idéias e esse movimento. A filosofia e o movimento Beat criados por Kerouac com cunho antimaterialista e de introspecção influenciou músicos como Bob Dylan, Beatles e Pink Floyd. Casualmente, meus ídolos. E toda uma série de escritores e artistas de vanguarda. Mas o que o movimento Beat tem a ver comigo? No início de 2020, precisamente em fevereiro daquele ano fatídico ( em março o mundo abismado acordava para um pesadelo chamado Pandemia )resolvi sair de férias solitariamente, pelas belas praias de Santa Catarina, algumas das quais não visitava há anos.

            Mais do que descansar e curtir os dias ensolarados daquele mês, eu estava na realidade fazendo um exercício que há muitos anos não praticava. Meditar. Meditar e pensar muito. Sem pressa, Com toda a calma e tranquilidade que eu pudesse ter, mesmo que as vezes fosse difícil em função da agitação toda de uma praia em pleno fevereiro. Mas era necessário. Há momentos que simplesmente não restam alternativas. Temos que simplesmente parar e refletir, para poder tomar decisões; ou mesmo para ficar exatamente como está, se essa for a coisa certa a ser feita. Na realidade eu precisava ou pouco mais que isso. Foi como se eu tivesse voltado a minha primeira viagem. Estava na busca de um significado para tudo aquilo que eu havia feito até aquele momento, e talvez mais que isso; um significado para aquilo que eu me tornei. Viajante? Literalmente. 

            A paz tão necessária e fugaz, eu havia de certa forma encontrado, mas o significado ainda não. Espiritualmente busquei caminhos, mas sinceramente, depois de fazer o necessário balanço da minha vida, não encontrei uma resposta satisfatória. Entre erros e acertos, felicidade e tristeza, esperança e melancolia, devaneio e realidade, cheguei a conclusão em determinado momento que a vida não tem um significado que eu esperava encontrar. Fiquei de certa forma frustrado. Mas aí aconteceu algo inesperado. Aquele estalo, aquele momento iluminado que te faz compreender que temos muito mais que uma finalidade nesta existência. Temos uma missão. E só descobri isso fazendo o caminho, Colocando o pé na estrada. Não temos que nos julgar e muito menos os outros. Acho que já escrevi sobre isso, na linda e melancólica música dos Beatles The long and Winding Road, a letra descreve esse caminho que percorremos, essa estrada.

            Foi isso que eu encontrei. Talvez não te faça muito sentido, por isso a necessidade do On the Road . Eu fiz e fiquei mais tranquilo e sereno para encarar o restante da minha vida, de uma forma como nunca antes havia feito.

            Agora finalmente vou terminar de ler o livro.


            Por Ademir Silva

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