Muito mais que uma mesa

Cesky krumlov

Todo mundo tem alguma mania, certo? Eu tenho várias, mas na crônica falo de um hábito. Um hábito herdado, mas muito bem cultivado.

Quando meus filhos eram pequenos, eu não tinha muito tempo para desfrutar da presença deles durante a semana, então, os cafés da manhã eram - obrigatoriamente - com eles. De vez em quando havia protesto para continuarem na cama. Mas era imperativo que o tomássemos o desjejum juntos. Era aquele o momento de partilha, de conversas e de risadas. Enquanto eu morei na casa da minha mãe, ela sempre estava presente. Era ela quem mais curtia os momentos à mesa. E também quem passava o café cheiroso.

Almoços na casa dela eram intermináveis. Depois da comida, servida no máximo ao meio dia e meia, tinha o sorvete, o café e as conversas. Havia o momento fofoca, o momento briga de família e o momento paz na terra entre os membros da família Morais. As visitas dela, e as minhas, sempre iam parar na mesa da cozinha. 

Este é o meu hábito. Estar à mesa. Conversar, checar as redes sociais, ler os jornais, discutir, rir, brigar e fazer as pazes. Todos os meus hábitos giram em torno da sagrada refeição - cozida com todo afeto. Mas é o pós-refeição que me anima. É ver satisfação no rosto e no corpo de quem come a comida preparada por mim. É o drink que segue, a sobremesa que permanece no paladar e na memória e a conversa divertida de quem ama através da mesa.

Hoje em dia, aqui em casa, cada um tem seus afazeres. Já não permanecem comigo enquanto eu checo as redes sociais depois do almoço. Meu marido nunca teve este hábito. Pelo contrário. Antes de terminar a refeição, ele já está guardando os potes. Isso me causou tamanha estranheza quando o conheci. Da primeira vez que dormi no apartamento dele, havia um bolinho Bauducco, entre outras coisas, para o café. Cortei um pedaço e coloquei no prato. Mas como eu enrolo para comer, ele fechou a embalagem. E eu fiquei com vergonha de pedir mais. Essa história sempre é contada à mesa quando há alguém que ainda não ouviu. 

Para mim, a mesa não é somente um móvel utilitário. Ela é muito mais. Me remete às lembranças de momentos incríveis, onde a comida era o elo de ligação das almas.