Minha amiga de blog Taís escreveu um interessante texto sobre a inteligência, e isso me inspirou a escrever sobre como tolerar a falta dela; ou como queiram a burrice.
Ser burro ou inteligente faz parte do contexto de todos nós, afinal tomamos decisões a todo momento, baseados na nossa suposta capacidade intelectual de raciocinar bem. Acontece que não é bem assim. A Arte da prudência é um dos três grandes livros de sabedoria universal que ao longo dos séculos a cultura humana produziu: entre eles O Príncipe de Maquiavel, a Arte da Guerra de Sun Tzu, e este que eu citei que é da autoria do espanhol Baltasar Gracián. Ele é um oráculo de bolso, um livro de estratégias para conhecer, julgar e agir; para se avançar no mundo e alcançar o sucesso e a perfeição ( se é que ela existe; creio que não ). É uma obra prima com 300 aforismos e que o filósofo alemão Schopenhauer considerava absolutamente única. Recomendo a leitura .
Bem, o que a referência a este sábio espanhol do século XVII têm a ver com inteligência ou burrice ? Muita coisa. Na real este cara dava conselhos ( muita gente fala que se conselho fosse bom não se dava, se vendia; mas vá lá ) em uma época que a observação do comportamento e da condição humanas eram muito mais grosseiras e menos sofisticadas que as de hoje em dia; ainda mais dominados que estamos pelas mídias sociais. Gracián tinha o dom e a virtude de escrever de forma clara, profunda, precisa e concisa no estilo dos aforismos ( gênero que consagrou outro gênio, Nietzsche ). Ao reler casualmente essa pequena mas ao mesmo tempo tão densa obra, fiquei pensando como pude e ainda posso ser tão tolo ou burro em determinadas ocasiões? Porque não parei e não refleti melhor? Porque não usei da tolerância ? Porque não fui prudente naquele momento? Porque afinal proferi aquelas palavras ou tomei aquelas decisões precipitadas ? Sim poderemos falar que somos humanos e falíveis, e que o erro faz parte do processo... Sem dúvida, mas quando a tolice e mesmo a burrice de nossos pensamentos e atos passam a ser recorrentes e a fazer parte corriqueira da nossa vida, não seria o momento de parar e pensar?
Pois foi isso que eu fiz. Mas também cheguei a conclusão que brigar contra a tolice e a burrice nos desgastam demais e no final das contas pode ser infrutífero, e ser uma perda de tempo irritante. Puxa, poderia dar inúmeros exemplos : desde o cara que se recusa a se vacinar, até aquela escolha estúpida de uma roupa nada a ver, que só nos damos conta quando a vestimos para sair; o impulso momentâneo também nos sabota a todo momento, e isso é verdade. Se você por acaso se identificou com o que eu escrevi e penso, vai aí um aforismo do Gracián, que pode no final das contas nos poupar da irritação e intolerância com os outros e também com nós mesmos...
Saber tolerar os tolos
" Os sábios são os menos tolerantes, já que a muita ciência adquirida lhes diminuiu a paciência. O muito conhecimento é difícil de satisfazer, Epicteto diz que a mais importante regra da vida está em saber tolerar todas as coisas: com isto, ele resumiu metade da sabedoria. Para suportar toda a tolice é preciso muita paciência. Às vezes, suportamos mais daqueles de quem dependemos, o que é grande exercício de autodomínio. A paciência nos traz uma inestimável paz interior, que é a felicidade da terra. E quem não sabe como aguentar os outros deve se recolher em si próprio, se é que consegue se tolerar. "
Por Ademir Silva
Decisões tomadas sem prudência pode ter outro adjetivo que não é burrice, é instinto.
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