Já contei para vocês o meu processo de escrita, né?
Passo a semana toda pensando num tema bacana, num título criativo e alguma coisa que toque o coração e alma de quem me lê. Seja de forma carinhosa ou engraçada. O que eu desejo, toda terça-feira, é trazer um texto agradável.
Essa semana não foi diferente. Ia contar para vocês a minha relação pessoal com os insetos, num texto leve, mas hoje é aniversário de três anos de falecimento da minha mãe e meu coração se voltou para isso.
É incrível como o tempo e, algum esforço pessoal, fazem a gente mudar a forma de olhar para a perda de alguém amado. Minha mãe era a pessoa que eu mais amava neste mundo. Tá certo que esse amor imenso não me impediu de errar com ela, mas quem não erra, não é mesmo?
Minha mãe costumava falar em vida após a morte e reencarnação. Eu morro de medo de espírito. Para mim, são fantasmas e eu tenho pavor de topar com uma alma penada por aí. Não vou em velório e nem em enterro. Não acompanhei nem o enterro da minha mãe. O cemitério me causa uma sensação de pavor. sei lá...
Minha mãe adoeceu e morreu em três meses. Ela já estava com câncer no pulmão, provavelmente há bastante tempo. Mas ela nunca fumou, não bebia e não tinha qualquer sintoma. Por isso, quando descobrimos, era tarde demais.
Passei a última noite em que ela respirava no hospital. Não foi fácil. Mas me despedi, pedi perdão pelas minhas falhas e a perdoei pelo que eu achava serem as faltas dela. No dia seguinte, ela se foi. Em paz. Ela se preparou para essa passagem. Durante o velório eu via aquele corpo branco sem vida esticado num caixão com flores e não acreditava na perda tão repentina.
Nos meses seguintes, sozinha em Portugal para um doutorado, esqueci de viver meu luto. Fingi que não estava triste e que tudo estava bem. Não deu certo. A gente realmente precisa viver o luto, chorar, esconder a cabeça debaixo do travesseiro e deixar as lágrimas saírem lavando toda a tristeza da alma.
Hoje, depois de entender o que minha mãe sempre ensinou, estou curada. Já olho as fotos dela sem chorar e já falo dela com um bom sorriso. O que ficou da morte da minha mãezinha foi o que ela me deu em vida. Foi o carinho, a sustentação, a base para me tornar quem sou, a honestidade em tudo o que se faz e a bondade até com quem te feriu. Minha mãe era uma pessoa extremamente bondosa e capaz de se doar para os outros como eu jamais vi.
Hoje sei que não existe vida após a morte da forma que ela ensinava. Essa vida após a morte é tudo o que quem se foi deixou plantado em nós. E no mundo.
Minha mãe passou por esta vida deixando cinco filhos e cinco netos. Todos são o reflexo da sua imperfeição mais-que-perfeita. Da sua alegria, dos seus medos, da sua bondade, dos seus ensinamentos e da sua história.
Somos um pedaço da dona Geni que ainda vagam por este mundo efêmero.
Emocionante.
ResponderExcluir🥰🥰🥰
ExcluirLendo seu texto, sinto tão grande amor estampado nele. E também fiquei pensando em como a gente gosta de driblar a tristeza, como se ela não cobrasse depois... Ainda bem que superamos e podemos sorrir novamente. ❤️
ResponderExcluirNão há nada que o tempo não cure....
Excluir