Velório.
Eu de fora fico impressionada com certas coisas que só nessa situação - de quem não está sofrendo e não faz parte do show - conseguimos observar. Nesse tipo de evento, se é que podemos chamar assim, encontramos de tudo.
A prima que há tempo não se via, o cunhado da prima, a irmã da amiga, o cunhado do compadre do fulano, que é primo da irmã da sobrinha-neta do falecido, pessoas de fora que nem sabemos de onde apareceu.
Pronto a festa começa. Sim porque em alguns velórios é bem isso: Festa.
E nesse eu vi ali, do ladinho, numa mesa - dessas de montar - garrafas de café, chá, adoçante, açucar, bolachinhas, torradas, pãezinhos e as línguas correndo soltas, quando não soltam gargalhadas claro, sem elas não seria velório, óbvio. Já tinha visto auê, mas fiquei impressionada com esse. E a falsidade e a hipocrisia, mandaram lembranças e deram beijinhos.
Sempre tem os desafetos, uns que não se dão com os outros, aquelas que aparecem como se estivesse indo para um festa de aniversário : calça bordada, blusa incrementada, salto agulha. Têm também as brigas corriqueiras dos que cuidaram até o final do falecido e não admitem que outras pessoas falem que não sofreu tanto, por ter cuidado do tal, sim, são mártires. Quando não, existe aquela estrela-mor, sim essa, não é a viúva, mas alguns até confundem. Então é sessão de desmaios, choros incontidos, abraços e carinhos, porque cada um faz seu papel, para depois comentar o absurdo de tal ato.
Nesse, enquanto a cunhada chorava parecendo ser a viúva, o teatro rolava solto, a vizinha, leia-se: vi-zi-nha chorava como se fosse a namorada. O engraçado, é que quando o pobre estava vivo, era jogado igual bolinha de ping-pong e ninguém demonstrava tanto amor e carinho pelo fulano. O que um palco não faz. E na hora de fechar o caixão, eu vi os semblantes mais tristes do mundo como nunca pensei em ver, de repente, assim, como um estalo, logo ali, pertinho da saída, os mesmos rostos sorrindo e se despendindo, marcando o próximo chá, na casa de alguém. Com tanta estrela em cima do palco, o coitado que deveria ter todas as atenções é um mero coadjuvante e agora quando foi sua única chance, coitado, perdeu o papel principal.
Fechem as cortinas, por favor.
Por Rachel Kizirian
Esse é o palco da vida, dói.
ResponderExcluirSeres humanos sendo seres humanos... No meu quero cachaça, briga, choro, risada e bailinho. Se possível todo mundo de ressaca no final....kkkk
ResponderExcluir