A VOLTA DO TALIBÃ

 

            E o Talibã está de volta. A terrível notícia correu o mundo na última semana e continua ainda a nos deixar perplexos; como é possível que este movimento minoritário extremista tenha voltado a controlar este país tão exótico quanto distante e atrasado do outro lado do mundo?

         Não é fácil tentar entender o Talibã. É preciso compreender e estudar todo um contexto geopolítico, étnico, religioso e especialmente teológico de toda a região, e principalmente os diversos conceitos e variantes do Islamismo ( é sim, as temíveis variantes que estamos acostumando a entender com o vírus da Covid ) e que acabaram por formar grupos dissidentes dentro do próprio Islã. O Talibã é considerada uma organização terrorista por grande parte do mundo Ocidental, especialmente os países do Primeiro Mundo e também pela Rússia, seu grande líder por duas décadas Mohammed Omar foi um dos mais influentes jihadistas do mundo ( aqui outro conceito fundamental para se entender, " jihad" significa empenho, esforço ou luta, o exato significado dependerá do contexto, mas habitualmente é entendida como guerra santa, travada contra os inimigos da religião muçulmana; existem duas jihads, a menor, onde o indivíduo trava uma luta consigo mesmo pelo domínio da alma e a outra a Jihad Maior, que é a luta armada que os muçulmanos fazem contra os adversários do Islã; a palavra Jihad surge constantemente no Alcorão, livro sagrado, com ou sem conotação militar). O outro importante conceito é a sharia ou xaria, que é o direito islâmico, que ao contrário do Ocidente, não há a separação entre direito e religião, sendo todas as leis fundamentadas na religião e baseadas nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos.

        Os Talibã surgiram logo depois do caos formado pela retirada das tropas soviéticas em 1989, que invadiram e dominaram o país por 10 anos, resultando em guerras e disputas internas e contra o governo instalado que era de influência comunista, neste contexto o Talibã era uma alternativa caracterizada pela predominância da etnia " pachtun" , o grupo maioritário do país e pelo rigor religioso extremo, criando na população expectativas que acabaria com o constante estado de guerra; só que com o tempo e a tentativa de submeter as outras regiões étnicas a essa ideologia, acabaram por se revelar um bando de senhores da guerra. Arrumaram aliados nos militares paquistaneses e de um grupo de militares árabes sob o comando de Osama Bin Laden ( símbolo maior do terrorismo no Ocidente, treinado pelos próprios americanos e que mais tarde se voltaria contra e atacaria os EUA no próprio solo, destruindo as famosas Torres Gêmeas ) A ideologia dos Talibã foi descrita como uma combinação de uma forma " inovadora " da lei islâmica - sharia - baseada no fundamentalismo Deobandi e o islamismo jihadista salafista de Osama Bin Laden com as normas culturais e sociais da etnia pachtun. Viram o tamanho da complexidade ?  

         O Talibã fechou todas as escolas para o sexo feminino, proibiram as mulheres de trabalhar fora, a televisão, os livros, a maior parte dos desportos e atividades recreativas e ordenaram que todos os homens usassem barbas. Não vou comentar sobre os massacres, amplamente descritos e de uma barbárie inacreditável. 

          A luz da civilização ocidental eles são talvez o que de pior tenha surgido como representação do extremismo religioso e terrorista, proibem praticamente tudo que conhecemos como meios de cultura e recreação, e ainda se beneficiam economicamente do cultivo e venda do ópio, alegando que é permissível somente porque é consumido pelos " kafirs " ( os infiéis ) no Ocidente.

          Depois do que aconteceu no fatídico 11 de setembro e que chocou o mundo, devemos estar muito atentos a estes movimentos terroristas disfarçados sob facções religiosas, e que provaram que mesmo de muito longe podem através de suas redes e influência religiosa e principalmente ideológica extremista, afetar e atacar qualquer alvo que se posicione contra suas ações.

           As imagens da tomada de Cabul esta semana devem nos tirar da nossa tradicional alienação quanto a este tipo de assunto e nos alertar quanto ao poder das minorias... E o quanto nos é caro a nossa liberdade de agir e pensar.

         

         

       

Comentários

Postar um comentário

Deixe aqui a sua essência