SUSPIRIUM

 

                  " Suspirium " do latim, significa suspiro. É o título de uma música tema de um filme " Suspíria " e é de autoria de Tom York vocalista e líder da banda britânica Radiohead ( o qual sou muito fã ). Neste caso é uma obra solo do York, para este filme que na realidade é um remake de um filme de terror de Dario Argento, e que trata da história de uma jovem dançarina americana que viaja até Berlim para dançar em uma renomada escola de dança, que no final se revela um clã de bruxas.

              Sim, bruxas. A história por trás deste filme e o original é a mesma, mas com algumas nuances bem diferentes, devido á época em que foram realizados, mas com um local em comum , a sombria Berlim Oriental dos anos 70, vale a pena assistir aos dois. Antes de qualquer coisa, o tema " bruxaria " ou " feitiçaria " assume vários significados e aspectos, e que tem chamado a atenção de vários pesquisadores de múltiplas áreas, dando assim ares de estudos científicos e sérios sobre o assunto. Acreditar em bruxas hoje em dia é uma coisa bem complicada, em uma era como a nossa, digital e midiática que tudo registra e modifica. Assim temos que focar em obras que realmente levam a sério o tema e tirem a névoa de ocultismo que circunda esta forma de paganismo, que perdura pelos séculos; as formas modernas do ocultismo revelam que as tradições dos rituais permanecem, mas tomando outras facetas menos óbvias e diferentes daquelas que vemos em filmes por exemplo.

              Em uma obra magnífica do historiador italiano Carlo Ginzburg chamada Os Andarilhos do Bem ( ou Benandanti em italiano ) ele discorre sobre estes cultos e personagens que permeiam a vida principalmente dos camponeses da Idade Média até os nossos dias. A imagem da feitiçaria diabólica , com todos os seus acessórios - pacto com o Diabo, Sabá, profanação dos sacramentos - foi na realidade sendo elaborada entre os séculos XIII e meados do XV, por teólogos e inquisidores, para depois se difundir por toda a Europa e além do Atlântico. O Sabá ou Sabbat das bruxas, é uma reunião daqueles que praticam bruxaria e outros ritos associados, mas que devido principalmente aos teólogos cristãos inquisidores, é até hoje associado a orgias, magia negra e ritos diabólicos. Essa distinção é importante porque existe até hoje no nosso imaginário essa confusão, o que termina por criar mitos sobre essa prática secular.

               Mas afinal onde começam e onde terminam os mitos sobre as bruxas? Esta resposta não é fácil devido a complexidade que se esconde intrinsecamente ao tema; o ocultismo favorece isso, e por fim a mitologia que envolve a feitiçaria e as bruxas, as crenças populares e especialmente ( como em tudo nesta vida ) aquilo que a ciência não consegue explicar; nos leva a crer que existe sim algum poder atrás destes ritos e que pessoas que se entregam a difundi-los o fazem com determinados motivos e que escapam ao nosso mundo material. Seja como for, acreditar ou não em bruxas hoje, demanda modificarmos nossa capacidade de aceitação a realidades fantásticas, as quais não estamos propriamente preparados para compreender. As chamadas ciências ocultas são impregnadas de mistério, e para revelá-las é quase sempre necessário uma iniciação; assim como vários domínios das ciências naturais.

                Afinal você acredita em bruxas? Ou acha que é história pra boi dormir? Veja os filmes então ( outro filme interessante é A Bruxa com a estrela de Gambito da Rainha) leia o livro de Ginzburg, ouça a música primorosa do Tom York em Suspíria, e enfim tire suas conclusões. Olha, acredito ( assim como os ETS ) que possam existir várias bruxas incólumes no nosso cotidiano, e que para o Bem ou para o Mal, tenham ainda sua função na nossa sociedade, e que assim como as coisas do sobrenatural, estão muito acima de nossa compreensão e entendimento. Se você que está lendo este texto, por acaso, for uma bruxa saberá do que estou falando...

                Se realmente acredito? Vou parafrasear Che Guevara:

                " Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay."

                Por Ademir Silva