O OUTRO

 


                Está na moda dizer que o " outro " é lindo, ou é menos feio do que geralmente pensamos. Como diz o filósofo Pondè , quando o outro não cria problema, não há nenhum valor ético supremo em tolerá-lo. E quando cria, quase sempre ninguém o tolera.

           Muçulmanos são lindos, índios são lindos, a Àfrica é linda, canibais são lindos, imigrantes ilegais são lindos, enfim todos os outros são lindos. Uma das áreas mais amadas pela praga do politicamente correto á a chamada " ética do outro ", ou seja, uma obrigação de acharmos que o " outro " é sempre legal ". Outro " aqui significa quase sempre outras culturas ou algo oposto à igreja, Deus, heterossexual, capitalismo ou arrumar o quarto e lavar o banheiro todo dia.

           Evidente que conviver com o diferente é essencial numa sociedade como a nossa, assolada pelos movimentos geográficos humanos, mas daí dizer que todo o outro é lindo é falso e, como sempre acontece com o politicamente correto, desvaloriza o próprio drama da convivência com o outro.

            Pondé cita dois filósofos muito ligados a esta causa da " ética da alteridade " nome técnico para o frisson do amor a todos os outros. Martim Buber filósofo judeu afirmava que as relações não devem ser pautadas pelo binômio " eu isso ", mas " eu-tu ". Tanto faz se o outro for uma pessoa, um animal ou a natureza. A idéias é em si muito boa como elevação do padrão ético nas relações no mundo, claro que as vezes é impossível porque o mundo funciona na lógica das trocas de interesses ( acho que aqui vocês vão entender a mecânica que nos rege ), e a natureza humana está mais para Maquiavel do que para Pequeno Príncipe. O outro filósofo é Levinas, também judeu, não devemos querer saber o que as pessoas são ou para que elas servem, mas sim que são pessoas, e esse tipo de relação é o modo de Deus operar, porque Deus é o rosto do outro.

            Grande parte da crítica que fazem filósofos como Nietzsche e Platão é sobre essa tendência a descrever mal o mundo porque o fazemos desde um ponto de vista " ideal " e não real. Somos saturados de outros ( pessoa que vivem e pensam de modo estranho e quase sempre desagradável para nós ) em toda a parte : nos condomínios, no metrô, no ônibus, no trânsito, no cinema , no aeroporto ( agora demos um tempo em funçao da Pandemia e isso pode ser benéfico, ou não ). Em sociedades promíscuas culturalmente, como as do capitalismo avançado, em que pessoas se misturam no metrô e nas lojas, o outro está sempre ao seu lado e às vezes, na hora do rush, pisando no seu pé ou tomando seu lugar no ônibus ou a vaga no estacionamento.

             Se pensarmos em Burke o pensador britânico do século XVIII, sobre preconceitos, veremos que estes são mecanismos espontâneos de reação moral. Nesse sentido é muito difícil vencer preconceitos. Principalmente quando se trata de pessoas que creem que a sua religião deve reger o mundo e quem não crer nela é infiel e deve morrer.

                 Difícil né? Afinal, o que é outro para você? Isso dá muito pano para manga...


              Por Ademir Silva

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