Liberdade, liberdade !

Liberdade, liberdade ! Por Allan Marinho Eu devia ter uns 8 anos de idade. Estava brincando sozinho com minha bola nova (Dente de Leite!) dentro de casa. A minha mãe tinha o costume de tomar café todos os dias no mesmo horário. E, lá estava ele com aquela xícara gigante. E, lá estava eu fazendo “embaixadinhas” com minha bola. Antevendo o que aconteceria, ela me mandou ir jogar no quintal ou na rua. Eu, pra variar, disse que nada daria errado. Minha mãe então com muita doçura me disse que se eu acertasse a xícara e acertasse ela, ela iria me dar uma surra com vara de goiabeira. Eu, respondi para ela que nunca acertaria nenhuma das duas, pois eu era o Zico, melhor jogador do mundo e ...booom! Acertei a xícara de baixo pra cima e joguei todo o café no rosto da minha mãe. Ao invés de pedir perdão e implorar por minha vida, eu tive uma crise de risos. Minha mãe podia ter todos os defeitos do mundo, mas ela cumpria suas promessas. Ela foi até o quintal, quebrou um galho (grosso) da goiabeira e começou a sessão porrada. Eu, Diabo que era, não parava de rir e nem sentia dor, acho que a adrenalina e lembrar da cena era demais pra mim. Sempre fui meio doentinho. A vara quebrou e eu não parei de rir, minha mãe foi buscar outra...então meu sangue esfriou um pouco e eu vi que ia ficar todo ferrado. Quando ela voltou, eu disse que se ela me batesse eu iria fugir de casa. Ela disse que não iria, que se eu fizesse qualquer besteira, eu iria apanhar de varinha de goiabeira e bla bla bla! O que eu fiz ?...uma amiga dela chegou do nada e aqueles minutos eram tudo o que eu precisava... Sempre nos desenho do Pica-Pau, ele amarrava uma trouxinha num pedaço de madeira (cabo de vassoura?) e ia embora ... eu peguei um cabo de vassoura, coloquei um tênis, uma camiseta e um short, juntei uns trocados do meu cofrinho e saí bravamente pelas ruas do meu bairro...o mundo não tinha mais barreiras ou fronteiras pra mim... Minha mãe discordava dos meus planos. Ela se livrou da amiga dela depois de alguns minutos e indo até meus amiguinhos(outros capetas) da rua, ofereceu uma recompensa pela minha captura. Logo uma força tarefa de uns dez moleques se juntou para me caçar. Eu não estava muito longe, pois quando você é um ser livre, você não tem pressa. O ar enchia meus pulmões de uma energia que nunca tinha sentido, uma me movia, essa força chamada liberTAPA !!! O primeiro tapa da molecada me acertou nas costas e eu não caí , apenas caminhei desequilibrado para frente. Quando um deles disse que minha mãe tinha pago a eles para memorável de volta, eu ofereci o dobro para eles dizerem que não tinham me achado. Eles disseram que não eram malucos de desafiar a minha mãe (acho que eu era o único) e me pegaram pelos braços. Eu aproveitei um momento de distração deles e me desvencilhei correndo...corri muito ! E, eu era rápido ! Pensei ter conseguido fazer eles me perderem de vista e subi em uma árvore. Vi meus amiguinhos passando por mim, e já estava comemorando minha fuga e sagacidade quando a primeira pedra me acertou no pé. A molecada gritava que iria subir e me derrubar, eu xingava de conta e dizia que ia derrubar todo mundo...como eu era um capeta, eles decidiram que era melhor usar o método Maria Madalena e me encheram de pedradas. Uma dessas pedradas acertou meu quengo(cabeça, Meu Caro Watson!) e eu caí como um saco de b...batata. Fui novamente capturado e levado até minha mãe, minha algoz...ela pagou meus captores e disse que não me bateria com a varinha de goiabeira. Uma tempestade de alívio percorreu meu âmago. E, foi nesse dia que eu descobri a surra de cinto. Enquanto levava umas “lapadas” nas pernas e bunda, minha mãe me dizia que eu era maluco, que podia ser morto, que o mundo lá fora era perigoso pra uma criança , etc. Depois desse dia, eu(mesmo sendo um Pirralho que não sabia nada da vida) falei pra mim mesmo que eu iria definir minha vida e quem eu seria, por pior que fossem as minhas escolhas. Demorou mais algum tempo, até eu ter trezes anos e arrumar meu primeiro emprego. E arrumar meu primeiro emprego. E, depois disso eu ditei minha vida. Pelo menos acho. Hoje, faço o que desejo(com exceção de trabalhar), sou livre. Não convivo com pessoas que não quero, não vou para lugares que não desejo, até meus clientes se me encherem o saco são dispensados... Me cuido para a vida não me dar tapas ou pedradas, como as que levei daqueles malditos amiguinhos, e quando uma pedra ou tapa me atinge...é uma vez só. Aqui nos Estados Unidos tem um ditado : “Fool me Once, shame on you. Fool me Twice, shame on me” (Me engane uma vez, erro(vergonha)seu. Me engane duas vezes, erro (vergonha) meu.” Entendo que a minha mãe quis me proteger de um mal maior, de um mal maior...entendo até aquele varinha de goiabeira... Mas, acho que as pessoas devem se permitir tentar buscar novos objetivos...devem se aventurar. Buscar a liberdade, seja ela a liberdade do trabalho...dos relacionamentos mal sucedidos, dos empregos mal remunerados, etc. Então que tal ter a coragem de tentar ? Enfrentar o medo de encarar a varinha de goiabeira? Te garanto que será melhor que não tentar...

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