Tralhas que guardamos


Há exatos um mês e um dia, eu mudei de casa. 
Era um desejo de algum tempo, pois minha antiga casa tinha três pisos e dava um trabalho bem grande manter limpa e organizada. Fora que meus filhos cresceram e, em breve, devem alçar voos deixando a casa grande demais só para o casal que está envelhecendo.

Anunciei e vendi muito rapidamente a casa. Confesso que a velocidade com que as coisas aconteceram me surpreendeu.
Começou o corre-corre para encontrar a casa que eu queria, do tamanho que nos cabia e que coubesse também no nosso bolso.

Deu certo. Encontrei a casa. Precisava de reformas, ajustes e melhorias, mas dentro do caos que pode ser uma reforma, da demora na prestação dos serviços e entrega de alguns armários, está indo tudo bem.

Tenho um quintal enorme, que era um dos meus desejos, já temos horta e árvores frutíferas.
O problema ainda está sendo acomodar tralhas de uma casa de três andares e quatro quartos, em uma casa térrea de três quartos.

Quando comecei a empacotar as coisas, descobri que a gente acumula muito. Se temos espaço, guardamos. Está escondido, "organizado", arrumadinho, então, não tem problema. Vamos juntando tralhas ao longo dos anos.

Me desfiz de duas malas de roupas, sapatos, bijuterias, casacos, enfeites, móveis e ainda não consegui lugar para guardar o que restou.
Fora os mais de 50 álbuns de fotografias que moravam no alto de um guarda-roupas e que há anos ninguém olha.

Me considero uma pessoa organizada. Não me achava, até então, uma acumuladora. Descobri que além de acumular lembranças e vivências, acumulei objetos desnecessários ao longo dos 10 anos que morei no sobrado do Guará 2.

Eu acreditava ter aprendido viver leve, não ter tantas coisas guardadas. Meu exemplo do que não ser, vinha da minha mãe, que guardava tudo. Tudo mesmo. Quando ela se foi, havia presentes que ela ganhara quando se casou com meu pai, simplesmente intocados. Na caixa puída pelo tempo.

Quando fiz o caminho de Santiago, tive que me desfazer de algumas coisas ao longo do trecho de 840km percorridos. O peso nas costas, no decorrer dos dias, me dizia para jogar fora, viver leve. Andar leve. Escutei as dores e os calos e fui leve.

Agora, travo nova batalha para aprender a viver leve. Ter o necessário e não o supérfluo. Quero acumular apenas as experiências e ensinamentos. Não quero nada abarrotando armários e gavetas, para que no dia da minha passagem, a minha família só tenha que juntar o básico e lembrar de mim pelo que fui, não pelo que acumulei.

E você, também é do tipo que junta tralha nos armários e gavetas?
Você vive leve?

Comentários

  1. Eu vivi leve a maior parte da minha vida. Ultimamente, o peso estás me incorporo mirando e quando isso acontece,
    Mas sei, hora de destralhar. Destralhar o físico e o emocional. O estar e o ser leve. E continuemos tentando sempre que houver necessidade!!!! Textão!

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