Na terreira - Final.

 

 Ele continuou dizendo que eu estaria a ponto de explodir e que teria que fazer uma limpeza com alguma coisa mais forte, no caso pólvora. Pensei, cara se vamos para pólvora porque o negócio é guerra mesmo. Perguntei quando seria feito esse trabalho e ele me disse para vir na próxima semana na casa que já deixaria dito para as gurias preparem o ritual. Falei tudo bem. Semana que vem estou ai. E me fui...

Chegando no dia, voltei novamente na casa. Vi que tinha muita movimentação e perguntei quando cheguei o que tinha naquele dia. Uma das trabalhadoras me disse que haveria ali a festa da pomba gira. Bah, pensei, essas festas são das boas, mulherada recebendo a pomba gira, fumando e tomando canha, o bixo vai pegar....kkkk. Fui convidado a entrar e fiquei esperando para ver se iam falar comigo sobre a limpeza com pólvora. Logo foram entrando os trabalhadores da casa. Em seguida começou os atabaques, as cantorias e as incorporações das entidades, como tinha homens e mulheres, a maioria dos homens recebiam os Exus e a maioria das mulheres recebiam a pomba gira, mas ai foi que notei uma coisa estranha no meio da festança, me aparece um cara alto, careca, discreto, que começa a receber uma entidade. Quando eu vi o cara colocou uma saia por cima da calça e saiu dançando que nem a pomba gira. Bah, só olhei com uma cara de poucos amigos, porque se esse baitola pensa que vai me enganar dizendo que é a entidade que está ali vai tomar um sopapo que a entidade vai subir rapidinho ou ele tá pensando que não sei que existe esses enrustidos que vão ali soltar a franga e depois dizem que não se lembram de nada, ain era a entidade... Ahã... sai pra lá jacaré...

Como já não estava gostando muito do clima, resolvi perguntar quando iam me fazer a limpeza com a pólvora, pois já estava afim de fazer esse rito e voar dali. Falei com uma moça e essa entrou salão a dentro e quando voltou, depois de algum tempo, me disse para voltar semana que vem que o cara que faz a limpeza da pólvora não estava ali.

Porra, será que um cabo armeiro ou alguém do exército que vai fazer esse ritual. Me lembrei do pai de santo quando me falou que eu estava a ponto de explodir, me acalmei e fui embora para voltar na próxima semana.

Voltei novamente e já estava de saco cheio de esperar essa tal limpeza. A festa naquele dia era dos Exús, já tinha começado e quem encontro requebrando no meio do salão já todo vestido de roupa de mulher, o tal careca alto. Bah, não vou ficar esperando e vendo tudo isso. Chamei um trabalhador da casa e falei que queria a tal limpeza, que fazia tempo que estava ali e tal. No fim veio o tal cara da limpeza com pólvora. Disse para eu sair da casa e ficar ali na rua pois a tal limpeza não podia ser feito dentro da casa. Pensei, Jesus eu me presto ainda... Bom, fui para rua, aí começaram os preparativos. Colocaram a pólvora em volta de mim, pegaram um galhos de arruda (acho eu) mais charuto e cachaça e começou o rito. As rezas e cantorias, no meio umas baforadas de charuto, depois outras de cachaça e por fim o cara tocou fogo na pólvora. Bom era tanta fumaça que se tinha alguma coisa junto morreu asfixiado. Depois disso o cara me disse que eu estava livre. Agradeci e fui embora enfumaçado.

Mesmo depois disso tudo não tive mais nenhum relacionamento duradouro, só alguns duradouros de um dia, mas ai já melhorou e muito. Agora é esperar para ver se o feitiço se desfez ou se não teve pólvora suficiente para quebrá-lo...kkk

Por Xandi Guilamelon