Depois de algum tempo sem me envolver com rapazes russos, voltei aos seus braços.
No fim do ano passado, que me perdoe o meu marido, fui dormir com Fiódor. Eu me apaixonei por ele ainda na adolescência, então, com toda a vênia, tenho o direito de me lambuzar com as suas palavras. Me deitei com O Idiota e acordei com o Dostoieviski que eu amei a vida toda, mas que a paixão estava adormecida.
Não achei o seu melhor trabalho, entretanto, se considerarmos o exílio na Sibéria, a luta para sobreviver e para obter o perdão do Czar Nicolau I, eu acho que ele fez um grande trabalho.
Deixei Fiódor - aquele que saiu de uma academia militar com ensino literário francês para ser acusado de traição ao império - de lado. Por enquanto, e espero que ele não se zangue, divirto-me com outro moço russo. Leon - ou Liev - Tolstoi.
Leon, diferente de Fiódor, nasceu numa família aristocrática. Abastada mesmo. Nunca fui uma apaixonada por Liev, mas gostei muito de Anna Karenina e Crônicas de Sebastopol. O maior clássico de todos os tempos, pela narrativa histórica e principalmente pelo tamanho da obra, eu ainda não havia arriscado começar.
Guerra e Paz é um livro que narra as guerras napoleônicas, mais precisamente, a invasão da Rússia pelas tropas do imperador francês. Eu tenho um interesse peculiar por guerras. Eu realmente gosto de conhecer bastante sobre conflitos armados e disputas ferozes. Essa minha propensão começou há muitos e muitos anos. Eu lia estórias de reis e rainhas e achava que tinham vidas verdadeiramente românticas. Depois vieram os livros de História, as fotografias de castelos, as batalhas, a Europa, o oriente e a Rússia. Meu Deus! Esses russos são loucos!
Eu sempre vi no povo russo, ucraniano e os balcânicos, um povo duro. Lendo as Histórias dos Czares, das batalhas em meio à neve, estradas pantanosas e rios congelados, me perguntava de onde saíram essas pessoas. Por que brigavam por um território basicamente coberto por gelo e por que os outros povos sempre queriam invadir a Rússia.
Desde a mais tenra idade, os russos, e as guerras, me intrigam.
Em Guerra e paz, Tolstói me abre as portas de uma guerra sem paz. Abre as portas de uma Moscou incendiada pelo seu governador e abandonada pelos moradores. Adentro uma cidade cinza, com soldados franceses, austríacos, poloneses, etc, matando russos e imigrantes que estavam em casa, em paz.
Leon Tolstoi me arrasta para a servidão praticada entre os russos há séculos, pela sujeira das peles, pela carestia de comida e água e pela ignorância triste de um povo jogado na miséria ao mesmo tempo em que a aristocracia arrebanha todos os víveres.
Penso na paz.
No livro de Tolstói, a paz é alcançada quando a morte finalmente chega aos moribundos feridos de morte na guerra.
Reflito sobre a Paz. O ser humano não consegue viver em paz. Estamos em guerra por todos os lados e tempos. Se não lutamos com armas quentes ou brancas, lutamos com bombas. Se não lançamos bombas, lançamos palavras e ódios.
Maldizemos o irmão que não pensa como nós. Reviramos os olhos e a internet em busca do mais perfeito xingamento para aquele ente que não gosta do mesmo político que nós.
Deixamos de lado e “cancelamos” as pessoas que não simpatizamos ou não têm a mesma fé.
Tolstói exibe mulheres que não queremos ser e acabamos sendo.
Apresenta Imperadores (ah, os Imperadores!) e seus nobres e “leais” amigos. Generais que lutam por moedas de ouro e traem por mais moedas de ouro e condecorações.
Tolstoi, ao se deitar comigo, me abraça com a sua guerra e me faz agonizar com a morte injusta de tantos inocentes. Me aperta contra si e me envolve numa guerra que não é minha, mas que preciso conhecer para nunca deixar acontecer perto de mim.
Ele sussurra nos meus ouvidos: “a paz só se alcança com a morte, mas nós podemos tentar viver sem as guerras cotidianas inúteis...
que maravilha... Escutei uma frase um dia que dizia que enquanto houver fome não haverá paz.
ResponderExcluirPois é. Você já imaginou o quanto sofre quem tem fome? Será que essas pessoas têm força para fazer guerra?
ResponderExcluirQue legal saber que você gosta de Tolstói, eu tenho Guerra e Paz mas ainda não tive coragem de ler, de Dostoiévski já li vários de seus contos sempre geniais, também gosto da história das guerras , outra hora conto algumas histórias...
ResponderExcluirOba! Vou ficar esperando!!!
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