Expectativas nossas de cada dia

Os dias de todos, ou quase todos, os seres humanos começam com um abrir de olhos e algumas expectativas.

Faz-se planos, cria-se esperanças durante a ronda pelos sites favoritos e redes sociais. Curte-se aquele banheiro dos sonhos ou a mansão de R$ 5,7 milhões que nem em sonho de rachadinhas seria possível comprar.

Ao levantar da cama, a maior parte dos viventes já criou esperanças. De não pegar trânsito, de não acabar a gasolina enquanto vai para o trabalho, de não mandar o chefe à &*#@*, de comprar um sapato novo, arrumar a namorada "perfeita", engravidar naquele dia, não contrair Covid, conseguir brincar com os filhos ou apenas permanecer vivo.

Expectativa...

    substantivo feminino

1. situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento.

Ou ainda, segundo a psicologia, a expectativa é uma esperança baseada em supostos direitos, probabilidades, pressupostos ou promessas.

Sendo assim, ao criar expectativas, principalmente em relação a outras pessoas/situações, dá-se um passo para o sofrimento. E, posteriormente, desilusão, pois supõe-se que seja correspondida. Seria uma espécie de “justiça divina”,  por ser um “direito” de ter para si o que se esperou. E quando estas expectativas não são satisfeitas, sente-se revolta, frustração e/ou ira. Aí, busca-se, frequentemente, o papel de “vítima”.

Quem nunca criou esperanças sobre algo/alguém? Quem nunca fantasiou situações que moravam apenas na sua própria cabeça?

Quem nunca se frustrou com o trabalho novo, o colega de classe, o amigo, o namorado, esposa, peguete, notícia de jornal ou feed do Facebook? 

Quem nunca foi dormir se sentindo mais feio que as celebridades do Instagram ou da revista Caras? 

Quem nunca passou uma tarde aborrecido por não ter dinheiro para comprar aquela roupa "show de bola" que viu na vitrine? Por não poder ir no Rock In Rio ou Loola Pallooza? Por não passar aquelas férias num all inclusive em Cancun ou simplesmente por não poder comprar aquele brinquedinho que seu filho pede todas as vezes que passa a propaganda?

Frustração é um sentimento legítimo. É inerente ao ser humano. Seria muito mais simples não criar expectativas em relação ao outro e trabalhar você mesmo para ser melhor. Mas não dá. Muita gente não consegue.

Eu crio expectativas todos os dias. Tenho esperanças, sonhos e desejos. Essa sou eu. 

E, confesso, me dói demais quando as coisas não acontecem como eu planejei. Mas, ao longo da vida, fui aprendendo a sofrer menos. A entender mais e aceitar mais. 

Não tenho mais acessos de raiva quando as pessoas não correspondem ao que eu quero delas. Compreendo que sou eu quem quer, e não elas.

Ter um filho que estudou psicologia e é um tanto cabeça-dura como eu, me ajudou muito a entender que a subversão, a teimosia, a desobediência e a frustração eram coisas minhas. E não dele. E não da minha filha. Eu não posso obrigá-los a ser como eu quero. Os Eduquei muito bem. Ambos são maravilhosos e não me dão trabalho. Mas eu custei a entender que eles são quem são e não uma extensão de mim. Não são meus robôzinhos. 

Quando mais jovem, eu sonhei ser uma grande jornalista. ter prêmios. Ser grande! E fui. E sou. Contudo, o mercado da comunicação não é mais o mesmo. Não cabe tanta gente. 

Eu me revolto por estar desempregada sendo uma ótima profissional? sim. 

Mas não sou só eu quem está nessa situação. 

Então, parei de criar expectativas a cada currículo enviado e apenas torço para dar certo. Se não der, sigo tentando. Sem aquela pressão sobre mim mesma, pois eu estava me adoecendo. Estava me envenenando com a decepção gerada pela minha própria expectativa.

Aprendi a rolar a linha do tempo das redes sociais sem me envolver, a não esperar muitas curtidas nas minhas postagens, a acordar com os pés no chão em vez de nas nuvens e a não cobrar das pessoas o que elas não vão me dar, pois as expectativas são minhas, só minhas. A minha saúde mental melhorou muito, a ansiedade também.

Agora eu vivo um dia após o outro, sem esperar demais, porém trabalhando pelo que eu acredito ser bom e salutar para mim e para quem está ao meu redor. 

Sei que eu me tornei mais agradável e mais contente.

Por: Taís Morais