O incentivo na infância é algo dúbio e pode virar frustração.
Uma das coisas que mais me irritavam quando minha filha era pequena, eram mães que soltavam frases do tipo: "nossa, a sua filha ainda não faz isso?" Ou " a minha filha está adiantada pra idade" e coisas do gênero.
Porquê sempre temos que ser melhores e perfeitos, temos que ter os melhores filhos, a melhor casa, o carro do ano, que conhecer todos os restaurantes ou ter viajado o mundo?
Qual o problema de não ser tão antenado ou nem tão efetivo? De não saber inglês, de não estar por dentro da última notícia e fazermos coisas invejáveis?
Outra coisa que me sempre me incomodou eram pessoas que para incentivar a criança a comer ou a fazer algo, simplesmente usava de subterfúgios como "se você não fizer isso, o homem do saco vai te pegar" ou então, "se você não me obedecer, vai tomar injeção".
Uma catástrofe!
E assim crescem na condição de serem as melhores, o cabelo perfeito, a fala impressionável, o jeito certo de ser, de se comportar porque fora disso, você não se enquadra, você não é suficientemente bom, você é fraco.
E eu pergunto, porque temos que nos enquadrar?
Porquê temos que - valem para homens e mulheres - saber falar bem, ler inúmeros livros, sermos dedicados, bem arrumados, inteligentes?
Porquê não podemos ser inseguros e medrosos?
E todos os problemas que enfrentamos, os traumas que carregamos, as lágrimas que não mostramos? Porquê não podemos ser descompensados de vez em quando?
Nossas qualidades vão além desses padrões, assim como nossos defeitos.
Porquê para ser alguém bom ou sermos uma pessoa viável, temos que fazer algo parecido com aquilo que esperam de você?
Aí que está o mal da humanidade, somos nada, erramos, não somos tão bons assim e quer saber, é exatamente isso. Acostume-se.
Isso não é nenhuma fala feminista, mesmo porque acho que homens podem sim abrir porta do carro ou trocar o pneu, mulheres podem se dedicar à casa e o oposto, também é verdadeiro.
Podemos e devemos inverter os papéis, se necessário fôr, se valer a parceria.
Tá, mas eu não sei e nem tenho força para trocar pneu, ok?
E crescemos adultos mentirosos, escondendo nossos defeitos, nossas falhas, somos adultos medrosos e que na primeira oportunidade, onde sabemos o defeito ou alguma "falha" de alguém, jogamos na cara e mostramos os dentes, dizendo: você também é assim, mesmo quando na verdade, só queríamos um abraço, um aconchego, um colo.
E se eu não me enquadrar?
O bicho-papão, vai me pegar?
A vida não é a beleza das redes sociais mas, se olharmos bem de pertinho e tivermos a felicidade em conhecer o defeito do outro, vamos perceber que o monstro não é tão feio assim e, ele ainda pode dar um sorrisinho e pedir um abraço para você.
Pode apostar.
Com certeza, imagina minha luta com o Felipe, com profissionais e parentes tentando que ele se encaixe em um mundo idiota. Ditam regras para um mundo autista que nem conhecem. Claro que tem que ter o mínimo de convívio em sociedade, mas é só. De resto ele mesmo vai plantar e colher a sua própria safra.
ResponderExcluirPais que comparam filhos ou pessoas que dão pitacos em como criar nossos filhos são insuportáveis. Gentileza é uma beleza. E eu estava precisando de um texto assim!
ResponderExcluirReal e inspirador ! Sempre procuro fugir de padrões ...
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