Numa estória de incesto, Chronos casou-se com sua irmã Reia e teve seis filhos: Hades, Poseidon, Hera, Deméter, Héstia e Zeus. Com medo da profecia que dizia que ele seria tirado do poder por seus filhos, Chronos engoliu todos os fihos logo após o nascimento. O único que se salvou foi Zeus, pois Reia enganou o marido dando um pedaço de pano para ser engolido no lugar do filho.
Quando adulto, Zeus saiu do esconderijo e deu uma poção mágica a Chronos, fazendo com que ele vomitasse todos os filhos. Por ter derrotado Chronos, Zeus e seus irmãos tornaram-se imortais.
Mas vamos falar de um outro mito grego: Kairós - o filho mais novo de Zeus e de Tique, a deusa da sorte e da fortuna.
Belo e com apenas um tufo de cabelo na testa, Kairós era um atleta tão ágil que era praticamente impossível persegui-lo. Entre os romanos, ele recebeu o nome de Tempus, que representa aquele breve momento em que as coisas são possíveis.
Kairós é o tempo que não pertence a Chronos. Não pode ser contado ou previsto. É a oportunidade.
Fugindo dos mitos e lendas, o tempo, do qual nos tornamos escravos, é mesmo Chronos. Cruel e implacável, não pode ser parado. Nada passa incólume a este ser tão insensível.
Tenho dois sentimentos distintos em relação ao tempo. O que me ensina e me torna mais madura. Me faz enxergar com mais clareza os meus erros passados e refletir sobre o futuro. Me traz certezas e sorrisos, transformando as incertezas da juventude em piada engraçada. Este é meu tempo herói. O tempo que eu gosto, que não aprisiona num relógio de parede, de sol ou de pulso.
E há o tempo cronológico, que enruga a pele, destrói o corpo físico e a memória. Carrega consigo o frescor da juventude. Que roubou o meu tempo, pôs grilhões nos meus pés e carregou as minhas crianças transformando-os em adultos, que logo serão aprisionados pelo relógio e não terão tempo de ver os seus filhos crescerem.
Entre as minha duas visões e divisões do tempo, eu quero me apegar à primeira. Onde as rugas aparecem, mas têm importantes significados. Onde as costas e os joelhos doem e a memória já não é tão fresca por ter vivido muitos dias, horas e anos. Onde o Chronos não manda na minha mente, nem me encarcera nos ponteiros de um relógio. Onde o tempo me ajuda a colher os frutos semeados na juventude e onde os pedaços de pano que eu engoli, já não me engasgam e nem me fazem vomitar.
É o meu tempo herói, que me fez esquecer mágoas e encontrar felicidade onde, no meu tempo vilão, eu jamais tive tempo para buscar. Muito menos para encontrar.
E para você, o tempo é vilão ou herói?
{Taís Morais - jornalista e observadora das coisas da vida}
Que maravilha de texto. Vilão ou herói? Acredito que seja aquilo que desejares... BJ
ResponderExcluirA gente deseja e o que deseja, faz.
ExcluirEu sou apaixonada por Kairós. O tempo é sempre amigo, mesmo nas adversidades, ele ensina, transforma, acalenta. Perde-se mas, ganha-se também. Surpreende.
ResponderExcluirQue texto! Que texto, amiga! ♥️
Oportunidade! Ela diz tudo! Obrigada!!!
ExcluirVocê foi além do tempo nesse texto, Taís. Faço minhas, as palavras dos nossos amigos Xandi e Quel. Para mim o tempo é um herói, que se disfarça e até usa identidade secreta. Quem não o conhece, o imagina vilão. Seu super poder: guardar. O guardador universal de tudo. Guarda todos os nossos momentos, até aqueles momentos que nem lembramos. Boa tarde!
ResponderExcluirE que não nos esqueçamos disso!!!
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