UM TAL JOÃO MARTINS

 

               Hoje resolvi escrever sobre um cara inspirador, um exemplo de vida e mais que isso um exemplo de pessoa notável não só pelo seu talento incomparável mas por sua personalidade ímpar.

           Eu já era fã de seu trabalho e de sua música, e interpretação ao piano da obra de seu mestre luminar que é Bach; mas não tinha até então, uma dimensão de seu imenso trabalho e caráter, até ler sua autobiografia e ver o filme sobre sua vida.

           Vou largar algumas de suas palavras enquanto comento, para aguçar a curiosidade sobre este homem genial :

           " A raiz da palavra experiência é a mesma de perigo, experimentar é viver o novo e o novo sempre traz risco. Os medíocres procuram sempre a rotina, o previsível, para evitar surpresas . O prazer está em criar novos jeitos de ver o mundo : os inevitáveis tombos são apenas a regra do jogo . Um preço a pagar pelo prazer da experimentação . Daí que as pessoas que vivem o perigo, só sobrevivem porque desenvolveram resiliência, caem e levantam-se : levantam-se ainda mais fortes."

           Esse tipo de gente , como bem escreve Gilberto Dimenstain, transforma a existência numa aventura ao combinar seus prazeres com as suas dores.

           O João Martins fez da perda, e foram muitas, uma matemática da soma. E perdeu aquilo que mais reverenciava , o movimento das mãos, que o fizeram um pianista famoso mundialmente. Pra quem não sabe ou o conhece, ele foi um considerado um dos três melhores intérpretes de Bach em seu tempo, um virtuose extraordinário. Se reinventou , tornou-se maestro e contra tudo e contra todos foi em frente ( sim, imaginem levar a música erudita , Bach ou Beethoven, para fora das salas de concertos e, ainda mais, para as periferias das cidades, popularizando e democratizando a música clássica; um desafio hercúleo ! )

          O João Martins não teve tempo para envelhecer, envelhecer é perder a curiosidade e a ousadia, e realmente, o contrário da vida não é a morte, é repetição. Poderia ficar por muito tempo discorrendo sobre seus feitos e dores, mas não vou tirar de vocês, e para quem não leu o livro, este prazer imenso , assim como o filme; este cara assim como a sua música toca o fundo da alma...

          " Aos 79 anos não gostaria de ensinar ninguém, mas mostrar o que vida me ensinou e aproveitar para dividir emoções, pois só sabe multiplicar aquele que aprende a dividir. "    João Carlos Martins

           O João é um cara simples, apesar de seu pensamento e obra extremamente sofisticados, um descendente de portugueses apaixonado por futebol e pela Portuguesa de Desportos, enfim um brasileiro que acredita nas pessoas e no inacreditável potencial revolucionário da música erudita .

             O livro se chama João de A a Z da editora Sextante

             O filme é João, o maestro

            Ademir Siva