Te carrego em meus olhos.

Seis meses tinham se passaram desde que eles tinham ido jantar pela primeira vez. Eles tinham assistido filmes, passeado, ido à bares e restaurantes juntos. 
Eram como melhores amigos, mas o desejo estava sempre presente. Algumas vezes se davam as mãos em lugares discretos, como o cinema ou, como na vez em que ela disse que iria levar ele no lugar que ela mais amava: a igreja em que seus pais tinham se casado em Ipanema. 
Ela, naquele dia explicou que seus pais tinham dado o primeiro beijo em frente àquela igreja e que, anos depois, decidiram que seria o lugar perfeito para se casarem. 
Ela cantarolou uma música em italiano que seus pais disseram que tinha sido a música da entrada da noiva... 
Ele escutava aquela e outras estórias tão maravilhado que, por vezes se sentia preso em uma narrativa de um livro antigo e, em outras em um filme romântico da Sessão da Tarde. 
Ela sempre tinha uma estória, tudo parecia um conto ou uma cena. Tudo com ela era diferente. E, mágico. Ele ao mesmo tempo se descobria cada vez mais. Sua sensibilidade tinha voltado. 
Começava a ver as cores através do cinza novamente. Ele tinha sido romântico até sua adolescência, idealizava amores baseado nos livros lia e, nos filmes que assistia. Escutava músicas e imaginava um amor que nunca tinha sentido, uma mulher que nunca tinha tocado... 
Com o tempo, ele deixou de procurar por essa mulher, por essa paixão. E, simplesmente deixou a vida é os prazeres mundanos guiarem seus instintos. 
Tinha casado e separado. E, estava tudo bem até sua rotina cinza ser quebrada... Agora, aquela cortina se rasgava e ele conseguia entender o que ele tinha buscado quando era mais jovem, o que ele tinha procurado está ali, diante dele. 
Ao mesmo tempo em que seu corpo reagia à cada toque ou abraço dela, ele sentia uma paz e calor nos momentos que dividiam que o levava à um estado de alegria e maravilhamento que permitia que ele refreasse seus instintos sexuais. 
 Ele conhecera os lugares especiais dela e tinha mostrado alguns lugares que ele curtia. E, eles tinham lugares que tinham conhecido juntos, que diziam ser “deles” .
Possuíam restaurantes, cinemas, teatro , feira e até uma padaria! Naquele noite, ele estava esperando que ela chegasse para que jantassem, tinha pedido um vinho ao garçom e distraído escrevia poemas sem lógica em um caderno. 
Ela tinha dito que chegaria 9:30, ele tinha chegado meia hora antes. E, vez por outra checava a entrada principal do restaurante, que ele conseguia visualizar de sua mesa , “Nunca sente de costas para a entrada! 
Regra número um do mafioso!” , uma vez ele disse à ela, que riu e disse que ele nunca seria um mafioso com aquela sotaque cheio de “esses” e “erres”. 
Eram 9:35 quando ela entrou e, mais uma vez a mágica acontecia, tudo ficando em câmera lenta. Garçons e clientes olhavam para ela sem entender o que sentiam, sem compreender aquela energia que mudava o ambiente. 
Algo que ele já estava acostumado e agora achava engraçado. Ele se levantou da cadeira em que estava abrindo espaço para que ela se sentasse ao seu lado, conforme ela tinha lhe dito que os casais apaixonados deveriam fazer e, eles tinham feito desde então. Ao chegar perto dele, ele se preparou para o abraço seguido de dois beijos na face a que estava acostumado, quando ela estancou em frente à ele, e disse quase num sussuro: “-Eu me separei hoje...” . 
Ao mesmo tempo em que a última sílaba saiu de seus lábios, enquanto ele ainda sentia a onda de calor do hálito dela tocar seu rosto... ela o beijou pela primeira vez. 
Os joelhos dele fraquejaram e ele mal conseguiu retribuir aquele beijo, quando ele conseguiu entender o que tinha acontecido, os cabelos dela já estavam passando roçando na face dele, enquanto ela se sentava e o garçom lhe servia uma taça de vinho. 
Ele, depois de alguns segundos eternos, percebeu o olhar curioso do garçom e engraçado dela. Meses depois ele se lembraria daquele dia e imaginaria que o garçom devia estar se perguntando o que aquele louco estava fazendo em pé ao lado da mesa, enquanto ela deveria estar curtindo o momento e tendo a certeza do efeito que tinha sobre ele. 
Ele, para tentar parecer menos idiota, perguntou como tinha sido a separação, ela começou a explicar e entrecortava sua narrativa com beijinhos leves e discretos. 
Ele não escutava uma só palavra. Só via os movimentos dos lábios e escutava os sons que pareciam uma música .”É isso que as sereias fazem com os pobres marinheiros, devo ser apenas mais um marujo”. 
Eles ordenaram a comida, ele praticamente devorou a comida sem se ater ao gosto, a única coisa que fazia sentido naquela mesa era o vinho. 
Depois de pedirem a conta, foram andando novamente em direção ao apartamento dela, aonde uma baby-sitter estava, segundo palavras dela, cuidando de sua filha pra que ela pudesse estar ali. 
Ele estava exultante e, mais do que nunca, torcia para que o destino final daquela caminhada demorasse mais a chegar. Se beijaram várias vezes durante o trajeto, o coração dele parecia querer explodir dentro do peito. 
Dessa vez ele caminhou de mãos dadas com ela até a portaria do prédio aonde ela residia. Ela cumprimentou o porteiro, e eles se beijaram longamente. Se despediram e dessa vez ela disse que queria ver ele ir embora, pois queria guardar aquela imagem. 
Mal ele tinha dado dois passos ela chamou por ele. Ele voltou feliz, ela beijou de leve os lábios dele e roçando seu rosto no dele sussurrou : “Eu quero fazer amor com você amanhã. Pense em um lugar especial para isso acontecer...” - olhou ele nos olhos e disse “Te carrego em meus olhos ...”
 E, entrou no prédio, cumprimentou o porteiro(“como ela consegue sempre sorrir assim?”) e desapareceu ao entrar no elevador. 
O porteiro estava olhando para ele com o mesmo olhar de curiosidade que o garçom tinha lançado horas atrás. Ele percebendo o ridículo, virou nos calcanhares e começou a andar por entre a boêmia da Cidade Baixa. 
Achou um bar um pouco mais vazio, sentou-se e pediu um vinho. Não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido naquela noite, assim ficou por algum tempo até o êxtase ser substituído pela apreensão. “ Caramba, o que será especial o bastante para amanhã ?”. 
Mais uma vez ele não iria dormir... (por: Allan Marinho)

Comentários

  1. A cumplicidade, o amor, a alegria de partilhar a vida. Você descreve tão bem o amor!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Caramba, Allan. Que show de texto! Tanto à apreciar. Maravilhoso, parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Meu velho está no emprego errado. Sou teu fã. Parabéns Allan...

    ResponderExcluir
  4. Você está arrasando, caramba!!!! Que texto lindo!!!! Parabenzaço!!!

    ResponderExcluir
  5. O amor e suas mágicas. E você que o coloca tão bem em seus textos. Quase consigo sentir as mesmas sensações. E não me sento de costas pra porta...

    ResponderExcluir
  6. Belíssimo texto Alan ! Raro talento para histórias das vidas de todos nós ! Parabéns !

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe aqui a sua essência