Gratidão

Eu tenho um amigo que reclama de tudo. 

Ele é o meu melhor amigo. 

Eu fico triste por ver que ele não consegue enxergar as coisas boas que a vida tem ofertado a ele. Vou dar alguns exemplos: quando eu o conheci, ele morava em um hostel. Eu também morava lá, tinha acabado de chegar de Porto Alegre e, solteiro que acabara de ficar, não queria incomodar minha família (que me ofereceu morada) com minhas chegadas, em estado lastimável nas madrugadas, e precisava ter a grana para alugar o apartamento que eu queria na praia do Recreio.

Além disso, minha família possuía uma cachorra assassina, Susi (que o Diabo a tenha) que com certeza me mataria no primeiro dia em que eu (bêbado) tentasse entrar em casa. 

O Hostel Vale do Luar era legal demais pra quem era solteiro. A gente fez festas e tomou porres memoráveis! Era bem localizado, na Praia da Macumba. Meu amigo na época tinha uma moto velha e eu também possuía uma moto. Junto com outros moradores do Hostel a gente se metia em mais confusões que aquela turminha que vivia mil aventuras na Sessão da Tarde!  

Depois de poucos meses, finalmente meu novo emprego me chamou e eu pude mudar para um apartamento, que era enorme (3 quartos/2 banheiros), perto do que eu morava no Hostel. 

Minha filha finalmente pode ir morar comigo novamente. Casei e depois de um tempo vim morar no exterior. Meu amigo, também saiu do Hostel e alugou seu apartamento.

Depois de um tempo, ele casou e decidiu seguir meus passos. Casou e veio para os Estados Unidos. Hoje, ele mora em um condomínio lindo, seguro e com uma baita infraestrutura (piscinas, jacuzzi, academia,etc) em uma cidade maravilhosa (Coconut Creek).  

Trabalhamos na mesma empresa. O trabalho dele é mais puxado que o que ele tinha no Brasil, mas muito longe da dureza que a maioria dos brasileiros imigrantes enfrenta aqui. O chefe é chato (comigo o chefe não é) com ele e com muitos dos outros funcionários. Mas...porém, entretanto, contudo... ele e a esposa possuem dois carros, moram em um aprtamento bem confortável e gostoso, a esposa dele é a própria chefe dela, possuem um dinheiro com poder de compra, segurança, nao trabalham na maioria dos finais de semana, moram em um lugar aonde as pessoas sonham passar férias ou viver, etc... 

Ele não é mais o cara que morava em um hostel e tinha uma moto velha. E, que também reclamava da vida naquela época. Infelizmente ele não consegue ser grato por tudo de bom que ele tem hoje, seja material ou intangível. 

 A esposa dele é o oposto. Mesmo trabalhando muiiiiiiitttoooooo mais pesado que ele. 

Ela é grata e consegue “ver”. Ela é maravilhosa, como sempre falo para minha esposa e para essa minha amiga: “Ela é a melhor amiga dos amigos dela”. 

Eu citei esse exemplo, pois todos nós temos pessoas assim ao nosso redor. Pessoas que amamos e que não conseguem perceber que tudo é uma fase, boa ou ruim. 

E, que o faz a diferença é a forma com que enfrentamos as adversidades e como lidamos com o “sucesso”. Tudo é passageiro! Tudo pode melhorar ou piorar. 

Cabe a nós a adaptação às novas circunstâncias e sermos felizes buscando melhorar, dentro do possível. Com relação ao meu melhor amigo, eu continuo amando ele, apesar dele ser um rabugento. Ele é um dos poucos que conheço que consegue me “acompanhar” na cerveja, um dos poucos a rir das minha piadas idiotas e fazer piadas/trocadilhos mais idiotas que os meus. Ele tem os bons momentos dele. E, isso me basta. 

Que possamos ser gratos pelo que temos (família,amigos, saúde,etc) e enxergar a beleza das coisas que nos cercam. 

E, que isso não tolha nossa ambição de sermos melhores, mas que possamos entender que existem pessoas em condições bem mais adversas que as nossas, mas que possuem um “sorriso no olhar”. 

Acima de tudo sejamos gratos por termos “perspectivas “ de melhora espiritual ou de vida em um tempo de tanta incerteza. 

Afinal, é tudo uma fase. 

 Por: Allan Marinho