Duas semanas tinham se passado desde que ele tinha se apaixonado pela primeira vez. Ele não era mais um adolescente e, homem racional (que acreditava ser) decidiu tentar consertar um pouco da imagem de maluco que pensava ter criado junto à sua professora.
No dia seguinte à sua ação inesperada (até por ele) de se declarar apaixonado, ele decidiu enviar flores (brancas, nada de flores vermelhas de stalker!) e um cartão com pedido de desculpas. No cartão ele pedia perdão e dizia ainda não ter processado bem o que tinha acontecido e prometia não repetir mais aquele tipo de comportamento. Ele ficou satisfeito com o resultado final. Com certeza ela deixaria de pensar que ele era um louco ou futuro stalker após aquele cartão e aquelas flores brancas !
Desde então, ele evitou as quatro aulas que teria com a sua primeira paixão. Ele ia para um bar que ficava em frente à faculdade . Conversando e bebendo com amigos, esquecia daquela agonia que tinha sentido e que o acompanhava desde aquele dia na lotação. De qualquer maneira não se sentia à vontade pra sair com outras mulheres, nem com sua ex-namorada que estudava com ele. Ela nem desconfiava do que se passava no coração do nosso herói. Ela não entendia o porquê deles dois não poderem ao menos “curtir um tempo juntos”, sem compromisso.
Aquela noite era apenas mais uma noite, apenas mais uma noite catorze dias depois. O fogo estava baixando, o buraco se fechando e a coceira no peito passando. Os dois períodos antes do intervalo tinham passado voando e nosso herói não teria aulas depois disso. Ele aproveitou para sair discretamente da sala dez minutos antes do fim da aula.
Chovia muito e ele esperava que a intensidade da chuva diminuísse. Já imaginava o gosto da cerveja gelada e as risadas que teria com os amigos no boteco em frente à faculdade. Tudo estava bem. Ele já está se sentindo 80 por cento normal !
A mão um pouco acima de sua cintura veio acompanhada de uma voz que fez com que ele se congelasse por um segundo, ele quase gritou de susto! Só não gritou, pois a sua voz se escondeu em algum escaninho de sua alma.
“- Eu sei que você tem evitado as minhas aulas, sei que você tem os seus motivos e entendi o seu cartão. Eu entendo mais desse jogo que você. Mas, não importa. Eu quero você nas minhas aulas, semana que vem! “ ela falava sorrindo !
“- Ah, antes que eu me esqueça ! Esse CD aqui tem as 12 músicas mais importantes da minha vida e nessa carta aqui tem uma descrição do que cada uma dessas músicas representa pra mim e o que sinto quando escuto elas!” . Ela entregou o CD e a carta nas mãos dele ao mesmo tempo em que saía rindo em direção ao estacionamento da faculdade, caminhando como se a chuva fria do inverno de Porto Alegre fosse nada !
Ele acompanhou ela andando, embaixo da chuva torrencial, até ela desaparecer no alto da ladeira que levava ao estacionamento da faculdade...ele só pensava (tremia por dentro) : “Como ?”
Ele guardou o CD em sua mochila, olhou pra carta em suas mãos. Algumas gotas da chuva borravam o nome dele no envelope, ele abriu rapidamente o envelope, sentia um medo inexplicável da chuva ter danificado o conteúdo da carta.
“ Música 1 - Essa música foi a música que os meus pais escolheram para a dança dos noivos, no dia do casamento deles. Com certeza eu não estava fisicamente lá, mas minha alma de alguma forma estava, pois o que sinto é...”
Ele dobrou a página. Guardou a folha dentro do envelope e o envelope na mochila...
“Eu estou fodido !” - pensou, e esqueceu a tempestade. Andou calmamente enquanto era castigado pela chuva gelada. Não sentia frio.
Chegou encharcado no bar, acenou um “já vou aí “ pros amigos que esperavam por ele em uma mesa.
Pediu uma cerveja no balcão, bebeu um copo e mais outro copo, seu peito coçava novamente, sua paz tinha ido embora...
“Eu tô muito fodido” - pensou antes de ir sentar junto aos seus amigos e fingir estar normal.
Ele nunca mais seria normal. E, de alguma forma ele já sabia disso duas semanas antes daquele dia.
Ahhhhhhhhh eu adoro esses seus contos de amooooooor!!!!!! Estamos fodidos, todos!
ResponderExcluirAh e eu adorooo música relacionada a sentimentos!
ResponderExcluirBah Allan que coisa boa. Lendo esses textos lembro daquela fase de ouro que passamos na Fapa (mais no boteco...kkk). Faz bem a alma... Até me inspirou para o próximo texto.
ResponderExcluirJuntando os contos do Allan, eu vislumbro um romance, de novela!
ResponderExcluirBoa, Allan!