A Avenida Protásio Alves é uma das principais avenidas e a mais extensa radial da cidade brasileirade Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. Inicia no bairro Bom Fim, indo até a divisa de Porto Alegre com os municípios de Viamão e Alvorada.
É uma importante via comercial, com bancos, restaurantes, supermercados, lojas, escolas, farmácias e hotel, entre outros, e também residencial.
Aquele dia até então tinha sido horrível.
Nosso herói voltava de São Paulo em um vôo que tinha atrasado duas horas. Ao desembarcar em Porto Alegre, ele tinha descoberto que a bateria do carro novo que ele tinha comprado poucos dias antes tinha descarregado completamente. E, ele não tinha tempo de esperar o guincho.
Aquele seria o primeiro dia na volta às aulas da faculdade e ele não queria se atrasar, não por ser um aluno “caxias”, mas porque sentia falta dos amigos e da bagunça. Naquela época, bebidas alcoólicas eram servidas até dentro do Campus(acredite, quem estudou lá pode confirmar!) e, ele era um cara muito popular. Cheio de amigos e colegas.
Decidiu pegar o T5, um ônibus executivo que levaria ele até à Avenida Protásio Alves, aonde ele poderia pegar uma lotação (microônibus) que o levaria até a porta de sua casa.
O calor em Porto Alegre no mês de março é algo sufocante, desesperador. Ele estava com um traje e gravata, tinha acabado de sair de um curso na multinacional que trabalhava em SP. Tinha corrido para o aeroporto, sem ter tempo de se trocar e agora corria novamente para pegar o T5, pois o próximo só saíria em 35 minutos. Gritando para pessoas que estavam mais próximas, esperando outros ônibus, elas pediram e o motorista esperou ele correr e entrar no ônibus antes dele sair. Agradeceu ao motoristas e aos passageiros das outras linhas que tinham ajudado ele.
“Era só o que me faltava!” , pensou. O ar condicionado do ônibus não estava funcionando e ele agora derretia dentro do ônibus, por sorte a viagem até o ponto aonde ele faria a baldeação não era muito longa, cerca de 15 minutos. Mas, mesmo assim aquele tempo foi o suficiente para ele ficar ainda mais suado e irritado.
Desceu na Avenida Protásio Alves e, puxando sua mala com rodas com uma mão começou desajeitadamente a tentar tirar seu blazer sob o sol escaldante das 5 da tarde de um horário de verão em Porto Alegre.
Vislumbrar a chegada da lotação após 10 minutos de espera se assemelhou ao avistamento de um oásis por um nômade em um deserto. Agora, além do calor, a sede incomodava e seus lábios estavam secos. Ele entrou marchando pela porta da lotação, seu “boa tarde” ao motorista foi algo instintivo e gutural. Seu semblante estava totalmente diferente e fechado.
Cruzou o corredor que levava até o último banco, um banco longo, e se sentou bem abaixo do ar condicionado. Afrouxou a gravata que o sufocava, baixou a cabeça e deixou que o vento gelado atingisse sua nuca, proporcionando alívio e calafrios.
Ficou por alguns minutos tentando se recompor, sentindo o suor secar e os arrepios daquele choque térmico diminuírem. Quando levantou a cabeça, aconteceu ! Ela, que estava em um dos primeiros bancos da lotação, virava seu rosto lentamente para frente novamente, após ter ficado olhando por um bom tempo para aquele que ela conhecia como um aluno irreverente e sempre bem humorado. Ela sorria.
Naquele momento ele se apaixonou pela primeira vez em sua vida. Ele tinha 20 e tantos anos e tinha passado incólume até aquele dia. Ele estava perdido, aquele sorriso tinha mandado uma mensagem pro seu cérebro e esse tinha reverberado essa mensagem. Seu coração “coçava “ pela primeira vez. Ele não sabia como agir diante de algo tão novo e inexplicável. Algo que ele só tinha lido ou visto em filmes. Algo que ele já tinha até debochado ao escutar amigos que diziam sentir. Paixão. Esse era o nome!
Ela era sua professora, e ele pensava que aquilo era clichê demais para uma da idade dele. Mas, ao mesmo tempo sentia uma agonia e uma necessidade de se atirar que não condizia com seu comportamento.
Nervoso que estava, sem saber o que fazer, demorou pra perceber que o ponto aonde ele desceria era depois do ponto em que ela deveria descer. Viu ela apertando a campainha (ficava em uma barra de ferro que podia ser acionadae o pânico se instaurou nele. Agora, além de arrepiado como um gato suas extremidades estavam geladas. Ele não costumava ficar nervoso com quase nada, muito menos assuntos do coração (por esse motivo, pensava até não ser completo).
Ela se levantou, era agora ou nunca. Ela foi descendo lentamente, tudo parecia em câmera lenta. E ele se levantou do banco em que estava e atabalhoadamente correu em direção à uno a porta da lotação. Quando chegou, percebeu que tinha esquecido sua mala e voltou correndo para pegar no fundo da lotação. Gritou ao motorista para esperar. E, quase caiu ao se enrolar com a mala. “Eu tenho que falar com ela! Droga, ela vai pensar que sou um psicopata! Um drogado!”
“ - Ei, Ivana ! Eu tenho que te falar uma coisa !”
“- Oi ! Eu não sabia o que pensar quando te vi entrar(ela ria, leve), vc estava com uma cara de brabo que eu nunca tinha visto!” - ela continuava rindo e ia falar mais, quando foi cortada por ele.
“ - Eu sei que você vai achar que eu sou maluco, mas eu estava ali atrás e quando você virou pra frente, eu acabei me apaixonando!” - ele quase gritava, mas só percebeu isso depois .
“ - Calma ! Por favor! Você está confuso! A gente conversa depois ! Eu tenho que ir, estou atrasada !” - e ela fez sinal para um táxi que passava e praticamente se jogou lá dentro, assustada que estava.
A porta do táxi se fechou e depois que o táxi partiu ele se viu parado na calçada, uma mão segurava a mala que tanto tinha atrapalhado aquele dia. Ele viu o táxi partindo e dessa vez ela não sorria. Seu olhar era assustado.
Ele ainda estava atordoado, não sentia calor. Sentia frio. E tremia de nervoso. De um jeito que nunca tinha tremido.
“Ela deve pensar que sou louco! Um viciado !” - pensou e, percebeu que tinha esquecido seu blazer na lotação. “ Dane-se!”
Estava em frente à um restaurante, entrou. “Um chopp, sem colarinho!”- Pediu.
Naquele dia ele não iria à faculdade, nem sabia se iria para casa. Nem sabia se teria coragem de continuar estudando no mesmo campus que ela trabalhava.
Lembrou dela sorrindo, ao virar pra frente da lotação. Lembrou dela caminhando em direção à saída e descendo lentamente os degraus.
“Ela parecia flutuar “ - pensou pela primeira de muitas vezes que aquele pensamento ia cruzar sua mente, não só naquele dia, mas no futuro.
Pegou o telefone e ligou para o seu irmão mais velho(que morava no Rio de Janeiro): “- Brother, eu acho que tô apaixonado pela primeira vez !”
“Ahá ! Te prepara que você vai sentir o que nunca sentiu!” - escutou daquela voz tão familiar e amiga do outro lado, 1.400 kms distante.
O garçom deixava o segundo chopp, enquanto o irmão mais velho escutava o caçula contar sua primeira história de amor.
Mais uma noite longa e ébria se aproximava. E ele, dessa vez, não queria dormir... pois tinha medo de parar de “sentir”. Medo de parar de “viver”.
Um romance & tanto. Me identifico com vários momentos. Me senti mergulhado na história,com as mesmas sensações do nosso herói. Leitura excepcional. Obrigado!
ResponderExcluirExperiências boas... Sobre o primeiro olhar... Essa eu tenho história...
ResponderExcluirEsses primeiros olhares são atordoantes. A gente não sabe onde vai, se vai ou fica. É incrível. Adoro as suas crônicas.
ResponderExcluirÓ, escrever essas coisinhas sentimentais é meu papel! Tá querendo tirar o meu lugar? Olhar... Aiai... Textão!
ResponderExcluirÓ, escrever essas coisinhas sentimentais é meu papel! Tá querendo tirar o meu lugar? Olhar... Aiai... Textão!
ResponderExcluirÓ, escrever essas coisinhas sentimentais é meu papel! Tá querendo tirar o meu lugar? Olhar... Aiai... Textão!
ResponderExcluirQue crônica !! Voltei no tempo ...
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