O SUPER-HOMEM NÃO PRECISA DE ÓPIO

Absolem escreve...



Meu estômago segue revirado esta semana. Não consigo encontrar palavras que possam exprimir toda a repulsa que ando sentindo por tudo o que vem acontecendo neste país retrógrado, tacanho e ignorante.

Não bastasse o horror vivido nos últimos 6 anos por uma menina de 10 dentro de sua própria casa; não bastasse a mesma menina ter engravidado do próprio tio; não bastasse mais uma vez esta mesma menina ter que passar por um aborto para que pudesse ter o mínimo de integridade preservada, ainda somos obrigados a ver uma porção considerável da população execrando esta mesma menina por querer fazer valer o seu direito legal ao aborto, chamando-a em alto e bom som de "assassina" numa corrente religiosa digna de qualquer filme de terror pós-apocalíptico, que se autodeclarava "pró-vida". Pró-vida de quem, caralho?

Não vou entrar aqui em tópicos como o descaso do Estado, ou o papel lamentável e ridículo, para dizer o mínimo, da Ministra da MULHER, da FAMÍLIA e dos DIREITOS HUMANOS, a Sra. DAMARES REGINA ALVES, ou o rol de crimes cometidos por SARA FERNANDA GIROMINI somente neste episódio, ou ainda a maldita CULTURA DO ESTUPRO, que impera em nossa sociedade machista e patriarcal desde os tempos do Brasil Colônia. Quero lançar luzes sobre o papel fundamental, ainda que sub-reptício, de um outro personagem: a RELIGIÃO.

"Brasil acima da tudo, Deus acima de todos". O que mais poderíamos esperar de um país que elege um governo cujo lema é esse? A Constituição Federal, que deveria, esta sim, estar acima de todos, em seu Art. 19, inciso I, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público". Então posso assumir que um governo que já lança mão de um lema como este está agindo em discordância com a Constituição. Posso também inferir, tomando como base o próprio lema, que o Art. 5º, em seu inciso VI, que diz ser "inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias", está sendo desrespeitado pelo próprio Estado.

Que me perdoem os conservadores de plantão ou os crentes de toda hora, mas Marx cunhou uma frase muito apropriada para os dias de hoje: "A RELIGIÃO É O ÓPIO DO POVO". Esta frase me parece fazer muito sentido. A religião, pelo menos do modo que toma forma e corpo neste país medieval e em alguns outros (vide a terra do Tio Sam), parece estar impedindo que as pessoas enxerguem a realidade que as rodeia com um mínimo de bom senso. Neste sentido, acaba sendo o ópio do povo mesmo, uma droga que nos entorpece enquanto sociedade. Não quero aqui fazer um libelo ateu, embora eu o seja de fato. No entanto é impossível deixar de considerar a hipótese de que, não fosse por nossa forte crença nesse Deus abraâmico, talvez estivéssemos em um ponto muito mais evoluído do espectro civilizacional.

Gostaria de sugerir a vocês, principalmente aos que NÃO CONCORDAM COMIGO, que leiam um livro fundamental para desanuviar a visão: "DEUS, UM DELÍRIO", do etólogo e biólogo evolutivo britânico Richard Dawkins. No livro, Dawkins discorre brilhantemente acerca de vários assuntos relativos à crença neste Deus pessoal e sobre como esta crença tem nos levado à nossa própria ruína enquanto sociedade e, acho que posso dizer, até mesmo enquanto espécie. Sim, acredito que o nosso apocalipse esteja intimamente vinculado a tudo o que a crença no Deus de Abraão tem nos trazido como efeito secundário. Entendo os supostos benefícios que possam ser relacionados à fé. Entendo que acreditar possa ser uma questão de foro íntimo e totalmente privada. No entanto, o que tem acontecido no mundo nos últimos anos parece desmentir essa dimensão particular a que a religião deveria ser relegada.



No prólogo do livro "ASSIM FALOU ZARATUSTRA", Friedrich Nietzsche escreve uma de suas mais célebres e mais incompreendidas frases: "Deus está morto!" E está mesmo. O deus que deveria ser celebrado pelo ensinamento de amor por todo e qualquer ser humano está morto. Aliás, a meu ver, algo que nunca existiu não tem como estar morto. De qualquer maneira, o que quero dizer tem a ver com como interpreto esta brilhante frase do filósofo que foi considerado louco em seu tempo: precisamos nos responsabilizar pelo funcionamento do mundo e de nossa sociedade contemporânea; precisamos deixar de atribuir a um ser imaginário tudo o que acontece de bom ou de ruim em nossas vidas; precisamos nos dar conta de que somos o Übermensch de Nietzsche, o Super-Homem capaz de ser o sentido da terra, de ser o profeta de sua própria história e de fazer valer a sua passagem por este Universo no qual somos apenas um grão de poeira cósmica.

Se, em algum momento da história do Universo, Deus tivesse de fato existido, neste exato momento estaria morto de desgosto só de olhar para o que estamos fazendo aos nossos semelhantes em nome Dele. E se, por um acaso, este mesmo Deus se regozijasse com todos os descalabros que temos presenciado atualmente, eu teria muito prazer em bradar em alto e bom som: "Sou ateu, graças a Deus."



Comentários

  1. Quanto mais leio sobre algumas religiões e vejo as atitudes de alguns religiosos e fiéis ...mais amo meus amigos ateus!
    Maravilhoso texto !

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    Respostas
    1. É... parece que é a única forma de manter o bom senso...

      (Absolem)

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  2. Para mim Deus é amor e só. De resto sociedade civilizada com seres imperfeitos nunca irá existir, o que mais pode se aproximar é uma sociedade justa com suas imperfeições...

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  3. Concordo contigo. Essa sociedade está vivendo em completa ignorância e radicalismo de ideias. A igreja e o Deus são usados como desculpa para os mais estranhos atos. A mentira, a hipocrisia e a idiotice passaram a ser características essenciais nas pessoas. E não é de agora. Não vem só com esse governo. Os discursos violentos e absurdos sempre estiveram na boca do brasileiro. Esse povo podre e violento. Machista e hipocrita. Racista e folgado. Bem lembrado. Deus está morto e com ele nossas esperanças.

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  4. Deus não é o problema, o ser humano é. Bradar em nome de Jesus na religião,é inclusive aqueles que nem tem uma religião definida. Temos hoje pouca, pouquíssima autorresponsabilidade e clareza. o ser humano culpa à Deus mas ele esquece de ver sua pequenez e de aceitá-la.
    Beijo, Bay!

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