No início tudo é mais difícil.



No início, tudo é mais difícil!

Era um domingo sonolento.Eu ainda morava em Porto Alegre(sou Carioca, mas vivi 16 anos em POA) e vendia carros em uma famosa Concessionária.
Éramos uns 10 vendedores de plantão e o movimento estava horrível(imagina hoje, com essa crise).
Um senhor gordinho, vestido de forma simples, mas decente(Em Porto Alegre, o pessoal parece que vai à uma festa  quando vai comprar carro, shopping,etc) apareceu na porta, tínhamos observado ele descendo do carro(simples) dele,andando devagar, hesitante.
Ninguém quis atender ele, eu fui ...
Vendi um carro top de linha na categoria (Aircross Exclusive) que na época custava umas 71 mil Dilmas.
Ele pagou 50 mil em cash e financiou o resto . Meus amigos, sem clientes pra atender naquele domingo, ficaram curiosos para saber o que ele fazia e ao fazer o financiamento dele, a surpresa : ele era dono de uma casa de "prazeres" em Porto Alegre.
Como a casa é famosa e o dono era gente boa , todos vieram puxar papo com ele e ele contou sua história:

" - Meus filhos, eu me visto dessa forma, pois batalhei muito para chegar aonde cheguei, então não me importo com rótulos.
Você vê a minha casa(boate)hoje e pensa que sempre foi dessa forma, mas eu não tinha essa estrutura toda antes.
Antigamente no primeiro andar eu só tinha travestis, no segundo andar eram só mulheres maduras na faixa dos 40 e no terceiro andar eram só ninfetinhas de 21 anos..."

Um amigo interrompeu e disse :
"- Ué, mas tá bom, dá para atender bastante clientes !"

E, meu cliente respondeu gargalhando :
"- No começo  somente eu ,minha esposa e minha filha “trabalhando”. No início tudo é mais difícil!”

Essa história (com H mesmo!) que vivi me veio à cabeça mais uma vez nesses tempos de pandemia global, com empresas falindo, demissões em massa e um “novo normal” que de normal não tem nada.
Vejo pessoas que amo lutando para sobreviver à essa nova realidade no Brasil. E, aqui nos USA aonde moro atualmente essa realidade está sendo menos difícil para os amigos que me rodeiam.

Longe de mim querer aconselhar alguém, não quero ser exemplo pra ninguém, mas uma coisa que aprendi morando fora do meu estado natal(RJ) quando me mudei para o RS e, do país em que nasci quando vim morar no exterior é que a gente se adapta. Querendo, a gente se adapta à novas realidades. Mas, realmente temos que querer.

Grande parte da sociedade brasileira se baseia em status, carteiradas, diplomas, etc. Queremos ter um carro melhor que o do vizinho, e nos metemos em financiamentos com juros absurdos(me perdoem, antigos clientes!). Queremos usar roupa de grife e gastamos mais que o nosso orçamento suporta. Muitos acreditam que um diploma é um atestado de superioridade quando estão diante de uma pessoa mais simples. O “você sabe com quem está falando” é uma constante em nosso cotidiano.
E, pior que isso, diante de uma crise infelizmente muitos ficam presos ao que acreditam ser, ao que pensam ser merecedores depois de tanto esforço(acadêmico e profissional) e deixam de tentar coisas novas, mais simples. Preferem ficar parados do que tentar se reinventar. E, o tempo continua passando e as contas não param de chegar.

Moro em um país aonde pessoas que fazem trabalho braçal em muitos casos ganham mais que as que trabalham em escritórios. E, nem entro no mérito que uma faxineira ou pintor(entre tantos outros profissionais braçais) aqui ganham mais que um médico no Brasil. Isso é culpa da sociedade brasileira.
Tenho amigos engenheiros que se reinventaram e hoje limpam casas e piscinas. Possuo amigos “formados” em diversas áreas que são pintores, fabricam bancadas de mármore,etc. Trabalham pesado, e são(em sua esmagadora maioria )felizes.
Todos esses meus amigos possuem uma característica em comum, eles se adaptaram à uma nova realidade. Alguns de forma mais rápida que os outros, mas todos perceberam que se adaptar era algo necessário pra enfrentar o desafio de morar fora, para sobreviver.
Essas minhas amigas e amigos se despiram de vaidades e rótulos. E, descobriram pessoas que estavam escondidas dentro delas. Pessoas mais simples. Pessoas melhores. E, eu admiro cada um deles.

Creio que o exemplo desses meus amigos que moram no exterior seja algo valioso para os que moram no Brasil.
Se você não encontra algo na sua área de trabalho, procure algo diferente, tente se capacitar em algo que você pensa que pode ser bom e que possa fazer você feliz, mesmo que inicialmente você ganhe um pouco menos. Venda coisas que as pessoas compram sempre, crie algo !
Aceite um trabalho mais humilde, SEJA HUMILDE, dê um passo pra trás, pensando em dar dois passos à frente no futuro.
Eu, particularmente acho esse negócio de trabalhar superestimado, mas a gente precisa sobreviver e não existe trabalho vergonhoso, vergonhoso é ter contas pra pagar e não trabalhar!
E, sobreviva à mais essa crise. Nós, brasileiros já passamos por tantas né? O importante é manter a cabeça fora d’água nesse oceano de incertezas.
Se reinvente.

São tempos difíceis e desafiadores. Se queremos vencer, temos que acredite em nós mesmos, nos adaptar e não devemos esmorecer ou desanimar diante de novos desafios. 
Afinal, como disse o nosso amigo gordinho:

“- No início, tudo é mais difícil!”

(Allan Marinho)


Comentários

  1. O problema é que, as mesmas pessoas que aí fora trabalham em empregos “não nobres”, no seu país natal não se submetem.... parabéns pelo texto.

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  2. O problema é que, as mesmas pessoas que aí fora trabalham em empregos “não nobres”, no seu país natal não se submetem.... parabéns pelo texto.

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  3. Reinventar-se sempre, no ter, no fazer, no pensar e, principalmente, no ser. Congrats!

    (Absolem)

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  4. Nossa, que texto coerente e preciso! Inovar, reinventar, sair do mais ou menos, ter clareza de pensamentos. Caramba, parabéns. Texto para ler de novo!

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  5. Nossa, que texto coerente e preciso! Inovar, reinventar, sair do mais ou menos, ter clareza de pensamentos. Caramba, parabéns. Texto para ler de novo!

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