por Absolem
Eu não sei vocês, mas eu gosto de tabus. Tabus me são interessantes porque causam desconforto. A começar pelo meu próprio. Ao me defrontar com o meu desconforto, obrigo-me a olhar para dentro de mim e, como consequência, a descobrir quem eu sou. Ao perceber também o desconforto causado em terceiros, fico contente em poder apresentar uma oportunidade para que o outro se observe e se conheça mais profundamente. Na minha opinião, o auto-conhecimento é o verdadeiro caminho para a felicidade.
Talvez o mais notório tabu de nossa
sociedade seja o sexo. Houve momentos, bastante remotos, em que o sexo era
encarado como uma forma de louvor aos deuses. Na Fenícia antiga, os cultos à
deusa Astarte, cuja origem encontra-se na Mesopotâmia (Ishtar para
os assírios e Inana para os sumérios), incluíam sexo com as sacerdotisas
do templo sob uma ótica sagrada, em que a celebração dos corpos no sacro ritual
da fertilidade aproximava a divindade de seus fiéis, garantindo bonança a
todos. Mas isso foi há muito tempo. E desde o advento do Monoteísmo e das
religiões de matriz judaico-cristãs, fundadas no mito de um deus único e
masculino, o sexo tornou-se um pecaminoso tabu. O deus único e masculino
permite o sexo apenas para fins reprodutórios, desconsiderando, quase que por
completo, que o corpo humano, fisiologicamente, é tão dotado de desejo e prazer
quanto de gônadas do sistema reprodutivo. Tabu é cultural, nunca biológico.
Mas não é sobre religião ou biologia
que quero falar. É sobre sexo. E principalmente sobre como o sexo é um tabu, de
uma maneira particular, entre nós, homens. Homens, como "nosso" deus
único e masculino. "Você está ficando louco, Absolem! A gente fala de sexo
o tempo todo, pensa em sexo o tempo todo. Há quanto tempo você não vai boteco
com os amigos?". Pois é. Peço desculpas pelo desconforto, mas nós não
falamos de sexo com os amigos. Falamos de putaria, quando muito.
Homens não falam sobre sexo. E
quando digo "sexo", estou falando sobre o que nos dá prazer, sobre as
nossas inseguranças, sobre os nossos medos, sobre as nossas descobertas, sobre
os nossos traumas. Falar sobre sexo é também falar sobre nossas
vulnerabilidades. E o homem, neste nosso contexto social judaico-cristão e por
conseguinte patriarcal, não pode ser vulnerável.Somos os senhores da terra e do
castelo, guardiões das mulheres e das crianças. Temos a obrigação de ser o
macho-alfa, o senhor do harém, o touro reprodutor. Somos machistas. Por isso
não falamos sobre sexo.
Eu quero me sentir livre para falar
sobre sexo. Quero olhar nos olhos de outro homem e discutir acerca de nossa
sexualidade masculina. Sem medo de ser julgado, disposto a compartilhar as
minhas e as suas vulnerabilidades. Quero sentir que não estou sozinho nesta
busca por auto-conhecimento, nesta busca por ser um homem melhor, mais humano e
menos um conceito sócio-cultural que nos tem sido imposto como verdade
inconteste desde a aurora de nossa civilização.
Conclamo, portanto, meus
companheiros a olharmos para dentro de nós mesmos, sem receios acerca do que
possamos encontrar. Conclamo meus companheiros a conversarmos sobre sexo e
sexualidade, sobre nossas vulnerabilidades e sobre nossos medos mais íntimos.
Conclamo meus companheiros a debatermos a respeito de o que querem que sejamos
e, principalmente, a respeito de quem de fato somos.
(Imagem: iluminura constante do livro Aurora Consurgens, tratado de alquimia do século XV)
Bah... Vou refletir muito e muito sobre isso, percebi que ainda tenho tabus...
ResponderExcluirIsso é, sem duvida, um tabu. Eu também gosto de tabus. E gostaria que os homens deixassem de ser tão “machos” e fossem mesmo homens. Que não tivessem medo de fazer isso que você propõe e se propõe: falar. Se conhecer. Se deixar conhecer. Isso é fantástico. Mais uma vez, obrigada!
ResponderExcluirÓtimo texto! Infelizmente, creio que as mulheres falem Mais abertamente sobre sexo que nós (homens)!
ResponderExcluirA melhor coisa para uma mulher, pelo menos ao meu ver, com uma mente consideravelmente aberta, é ter um homem ao lado sendo Homem, podendo falar muito além do sexo e sim do sentimento ali guardado.
ResponderExcluirSomos machistas? Sim. Todos nós. A sociedade é machista. As mulheres são machistas, mas têm uma sensibilidade toda própria. Palavras as cativam. Atos as conquistam ou afastam para sempre. Fico com os atos. Homens não confiam em quem os ouve para expor o que sentem. Em especial quando o assunto é sexo + amor.
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