Na minha infância tive um melhor amigo que vou chamar aqui de “Pedro”. A gente morava na mesma rua, num subúrbio do Rio de Janeiro. Creio que ele se mudou pra lá quando tinha 9 anos. A gente se via todos os dias.
A gente brincava, jogava bola juntos, brigávamos com os moleques das outras ruas/bairros e nos divertíamos muito. Nossas mães achavam que éramos má influência um para o outro, por mais que tentássemos tratar a mãe do outro bem, porque vivíamos metidos em confusões e tretas.
Minha primeira cerveja(eu tinha 13 anos, ele tinha 12) foi ele quem me ofereceu, dizendo que era amarga, mas eu ia gostar. O maldito estava certo e sou grato à ele por isso.
Adolescentes, íamos pras festas, danceterias, rodas de samba,etc. Nossas namoradas geralmente eram amigas, primas ou irmãs umas das outras. E, isso facilitava a logística quando comprei meu primeiro carro(um Fiat 147 velho)aos 14 anos.
Uma característica marcante do “Pedro” que todos que o conheceram falavam era que desde criança ele era o que no Rio chamamos de 171.
Ele enganava todo mundo, cansei de correr ou brigar com outros garotos por causa de figurinhas e bolas de gude entre outras coisas que o “Pedro” prometia para pegar a grana deles. Ele tinha a lábia e muitos caíam em suas estórias. Ele também usava essa lábia para arrumar suas namoradinhas.
Ele era uma lenda.
Não vou dizer que ele não tentou me enganar algumas vezes, mas acho que ele desistiu depois de tentar muitas vezes e não conseguir.
Ele era meu amigo. Meu melhor amigo.
Comecei a trabalhar aos 14 anos e ele continuou na busca do seu (nosso)sonho de infância, ser jogador de futebol.
Fizemos outras amizades, arrumamos outras namoradas que não se conheciam e passamos a nos ver menos, sair menos. Mas, sempre arrumávamos tempo pra um chopp, um churrasco. Afinal, morávamos na mesma rua!
Alguns anos depois, eu me casei. E, quando minha filha nasceu, eu me mudei para o Rio Grande Do Sul. Eu tinha 21 anos. Dois anos depois fui passar férias no Rio e, era como se o tempo não tivesse passado, entre um gole e outro de cerveja, a gente gargalhava lembrando das nossas aventuras e porres.
Foi a última vez que vi o “Pedro”. Naquela época os dinossauros ainda caminhavam nesse planeta e não existiam internet banda larga, redes sociais,etc.
Pluft. Ele sumiu. Eu sumi.
O tempo passou, divorciei, fiquei com a guarda da minha filha após a separação, fiz outros amigos e o Pedro virou apenas uma memória longínqua de mais uma época feliz da minha vida.
Depois de muitos anos voltei ao Rio de Janeiro, fui morar perto do mar que tanto sentia falta quando morava em Porto Alegre.Quando você cresce em uma cidade litorânea como o Rio, às vezes não se percebe a grandeza e maravilha que é ter a praia sempre tão perto.
Fiz outros amigos e colegas.
Fui apresentado à minha esposa por uma “colega”, que era amiga dela.
Essa amiga tinha trabalhado com ela por anos e, elas mantiveram a amizade mesmo quando a amiga acabou a residência no hospital em que ambas trabalhavam.
Essa amizade se fortaleceu mais ainda quando minha esposa foi morar no mesmo bairro que essa amiga. E, aonde esse seu amiguinho aqui morava.
Em nosso convívio com essa amiga da minha esposa, acabei por apresentar ela para seu (à época) namorado. Ele era irmão de um carinha que era casado com uma amiga.
O cara era bem machista, ciumento e possessivo(e, tinha acabado de se separar de outra mulher). Se eu soubesse disso, não teria apresentado os dois.
Um belo dia... PLUFT!...a amiga de minha esposa desapareceu de nossas vidas.
Não, ela não morreu. Apenas parou de sair conosco, de ser amiga de minha esposa e de outras pessoas. Ela desapareceu...
Eu não sou ninguém pra julgar a atitude dela. Não sei se minha esposa disse ou fez algo, se o cara era maluco, sei lá. Só sei que ela sumiu e minha esposa ficou muito triste.
Eu, apenas disse pra minha esposa não sofrer tanto por isso. “Algumas pessoas passam...”
E, então disse à minha esposa que todos nós temos pessoas que “passam”. Eles são amigos, amores, colegas de trabalho, etc...São pessoas tão presentes em nossas vidas que não imaginamos nossas existências sem essas pessoas. E, mesmo assim elas passam.
Sofremos inutilmente algumas vezes por pensar que essas pessoas estarão ligadas eternamente à nossas histórias, nos esquecendo que quase tudo em nossa vida é passageiro.
Quantos melhores amigos já tivemos? Quantas paixões, colegas de trabalho, familiares e outras pessoas cruzaram nossos caminhos e, simplesmente desapareceram?
Todos temos trajetórias, fazemos escolhas. Mudamos de cidades, trabalho, mudamos de “vidas”. E, o mesmo ocorre com essas pessoas que eram ou são tão importantes em nossas vidas.
Todos seguem em frente. Alguns permanecem muito ligados, outros tantos tem sua presença diminuída em nossas vidas . Outros, simplesmente se esvanecem. Vão desaparecendo, sumindo... até virarem uma lembrança, alguns se transformam apenas em uma estória engraçada, uma risada. Outras pessoas se tornam recordações tristes e avisos pra não repetirmos os mesmos erros.
E, você permanece.
A parte boa é que surgem novos amigos, novos amores e paixões. E, essas pessoas vão se tornar importantes e vocês não conseguirão mais viver sem elas.
Até que a vida os separe e a roda da vida comece a girar novamente, nos levando para outras paragens, outros amores e outras amizades.
Com relação ao Pedro, alguns anos atrás um dos meus primos (Diego) encontrou ele em um Banco e me ligou. Eu e Pedro conversamos ao telefone,Trocamos números, combinamos de sair pra beber uns chopps e viramos “amigos “ no Facebook.
Em um post dele, eu escrevi sobre como nossa infância tinha sido legal e dos “golpes” que ele dava nos outros moleques. Ele não gostou e me excluiu do Facebook dele. Perguntei qual era o motivo, e ele me disse:”- Porra Allan, minha esposa vai ler isso e vai pensar que eu sou 171!”.
(Talvez ele continuasse a ser 171).
Eu disse :”- Desculpa, valeu e seja feliz !”.
Ele não valia o esforço. Ele tinha “passado”. Eu tinha “passado”.
Algumas pessoas simplesmente “passam”.
A gente brincava, jogava bola juntos, brigávamos com os moleques das outras ruas/bairros e nos divertíamos muito. Nossas mães achavam que éramos má influência um para o outro, por mais que tentássemos tratar a mãe do outro bem, porque vivíamos metidos em confusões e tretas.
Minha primeira cerveja(eu tinha 13 anos, ele tinha 12) foi ele quem me ofereceu, dizendo que era amarga, mas eu ia gostar. O maldito estava certo e sou grato à ele por isso.
Adolescentes, íamos pras festas, danceterias, rodas de samba,etc. Nossas namoradas geralmente eram amigas, primas ou irmãs umas das outras. E, isso facilitava a logística quando comprei meu primeiro carro(um Fiat 147 velho)aos 14 anos.
Uma característica marcante do “Pedro” que todos que o conheceram falavam era que desde criança ele era o que no Rio chamamos de 171.
Ele enganava todo mundo, cansei de correr ou brigar com outros garotos por causa de figurinhas e bolas de gude entre outras coisas que o “Pedro” prometia para pegar a grana deles. Ele tinha a lábia e muitos caíam em suas estórias. Ele também usava essa lábia para arrumar suas namoradinhas.
Ele era uma lenda.
Não vou dizer que ele não tentou me enganar algumas vezes, mas acho que ele desistiu depois de tentar muitas vezes e não conseguir.
Ele era meu amigo. Meu melhor amigo.
Comecei a trabalhar aos 14 anos e ele continuou na busca do seu (nosso)sonho de infância, ser jogador de futebol.
Fizemos outras amizades, arrumamos outras namoradas que não se conheciam e passamos a nos ver menos, sair menos. Mas, sempre arrumávamos tempo pra um chopp, um churrasco. Afinal, morávamos na mesma rua!
Alguns anos depois, eu me casei. E, quando minha filha nasceu, eu me mudei para o Rio Grande Do Sul. Eu tinha 21 anos. Dois anos depois fui passar férias no Rio e, era como se o tempo não tivesse passado, entre um gole e outro de cerveja, a gente gargalhava lembrando das nossas aventuras e porres.
Foi a última vez que vi o “Pedro”. Naquela época os dinossauros ainda caminhavam nesse planeta e não existiam internet banda larga, redes sociais,etc.
Pluft. Ele sumiu. Eu sumi.
O tempo passou, divorciei, fiquei com a guarda da minha filha após a separação, fiz outros amigos e o Pedro virou apenas uma memória longínqua de mais uma época feliz da minha vida.
Depois de muitos anos voltei ao Rio de Janeiro, fui morar perto do mar que tanto sentia falta quando morava em Porto Alegre.Quando você cresce em uma cidade litorânea como o Rio, às vezes não se percebe a grandeza e maravilha que é ter a praia sempre tão perto.
Fiz outros amigos e colegas.
Fui apresentado à minha esposa por uma “colega”, que era amiga dela.
Essa amiga tinha trabalhado com ela por anos e, elas mantiveram a amizade mesmo quando a amiga acabou a residência no hospital em que ambas trabalhavam.
Essa amizade se fortaleceu mais ainda quando minha esposa foi morar no mesmo bairro que essa amiga. E, aonde esse seu amiguinho aqui morava.
Em nosso convívio com essa amiga da minha esposa, acabei por apresentar ela para seu (à época) namorado. Ele era irmão de um carinha que era casado com uma amiga.
O cara era bem machista, ciumento e possessivo(e, tinha acabado de se separar de outra mulher). Se eu soubesse disso, não teria apresentado os dois.
Um belo dia... PLUFT!...a amiga de minha esposa desapareceu de nossas vidas.
Não, ela não morreu. Apenas parou de sair conosco, de ser amiga de minha esposa e de outras pessoas. Ela desapareceu...
Eu não sou ninguém pra julgar a atitude dela. Não sei se minha esposa disse ou fez algo, se o cara era maluco, sei lá. Só sei que ela sumiu e minha esposa ficou muito triste.
Eu, apenas disse pra minha esposa não sofrer tanto por isso. “Algumas pessoas passam...”
E, então disse à minha esposa que todos nós temos pessoas que “passam”. Eles são amigos, amores, colegas de trabalho, etc...São pessoas tão presentes em nossas vidas que não imaginamos nossas existências sem essas pessoas. E, mesmo assim elas passam.
Sofremos inutilmente algumas vezes por pensar que essas pessoas estarão ligadas eternamente à nossas histórias, nos esquecendo que quase tudo em nossa vida é passageiro.
Quantos melhores amigos já tivemos? Quantas paixões, colegas de trabalho, familiares e outras pessoas cruzaram nossos caminhos e, simplesmente desapareceram?
Todos temos trajetórias, fazemos escolhas. Mudamos de cidades, trabalho, mudamos de “vidas”. E, o mesmo ocorre com essas pessoas que eram ou são tão importantes em nossas vidas.
Todos seguem em frente. Alguns permanecem muito ligados, outros tantos tem sua presença diminuída em nossas vidas . Outros, simplesmente se esvanecem. Vão desaparecendo, sumindo... até virarem uma lembrança, alguns se transformam apenas em uma estória engraçada, uma risada. Outras pessoas se tornam recordações tristes e avisos pra não repetirmos os mesmos erros.
E, você permanece.
A parte boa é que surgem novos amigos, novos amores e paixões. E, essas pessoas vão se tornar importantes e vocês não conseguirão mais viver sem elas.
Até que a vida os separe e a roda da vida comece a girar novamente, nos levando para outras paragens, outros amores e outras amizades.
Com relação ao Pedro, alguns anos atrás um dos meus primos (Diego) encontrou ele em um Banco e me ligou. Eu e Pedro conversamos ao telefone,Trocamos números, combinamos de sair pra beber uns chopps e viramos “amigos “ no Facebook.
Em um post dele, eu escrevi sobre como nossa infância tinha sido legal e dos “golpes” que ele dava nos outros moleques. Ele não gostou e me excluiu do Facebook dele. Perguntei qual era o motivo, e ele me disse:”- Porra Allan, minha esposa vai ler isso e vai pensar que eu sou 171!”.
(Talvez ele continuasse a ser 171).
Eu disse :”- Desculpa, valeu e seja feliz !”.
Ele não valia o esforço. Ele tinha “passado”. Eu tinha “passado”.
Algumas pessoas simplesmente “passam”.
ResponderEncaminhar |
Belo texto, Allan! Eu tenho a tendência a ler esses nossos textos e me lembrar de músicas. Este me lembra "A LISTA", de Oswaldo Montenegro... E o POEMINHO DO CONTRA, do Mário Quintana:
ResponderExcluir"Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!"
(ABSOLEM)
Mestre Quintana! Eu amava ir ao museu dele em Porto Alegre!
ResponderExcluirTudo na vida é passageiro...
ResponderExcluirO resto é motorista e cobrador!
ExcluirBem legal o texto, escrevi, sobre isso no meu blog esses dias, mas com muito ainda a escrever, mas uma partezinha diz assim: "Sabe, eu tenho certeza sobre os que passaram e não ficaram, lá deveriam ficar. Fica chato reencontrar sem saber o mínimo dos caminhos percorridos, e no fim, ninguém quer saber disso, querem mesmo é viver lá atrás" Fiquem onde deveriam ficar.
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