Há
muito tempo atrás li um texto memorável do genial Rubem Alves, onde ele
escreveu que o Tênis é um esporte maravilhoso, onde um jogador deve vencer o
outro, enquanto no frescobol um depende do outro para que se possa jogar, não
há vencedores. E maravilhosamente o grande autor faz uma comparação nas
relações humanas e nos casamentos... questionando que o relacionamento não deveria ser um jogo
de tênis, onde um tem a razão, mas um memorável jogo de frescobol, onde cada
lado depende do outro, e quando mais parceria tiver, mais lindo o jogo se
tornará...
Esta
crônica antiga, de 30 anos atrás, sempre me permeou a lembrança, e mesmo
naqueles momentos mais difíceis, eu resgatava de minha a memória. Enquanto no tênis
se joga para superar o adversário e ver as fraquezas no oponente, no frescobol
ou os dois ganham ou os dois perdem. Há uma celebre
frase do filósofo Nietzsche, que afirmou que: “Ao pensar sobre a possibilidade
do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: “Você crê que seria
capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?”. Tudo o mais
no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar.
E
o que são nossos relacionamentos? Talvez num botequim, numa conversa entre
amigos exista esta troca, esta sintonia e sinergia, esta relação de ganha-ganha,
mas fora ali, poucos outros locais exercem esta força de sentimentos, muito se
sobressai a famosa Lei de Murici “cada um por si” ou a Lei de Gerson “tirar a
vantagem em tudo”. Porque isso? Seja no trabalho, na política, no esporte, na
sociedade e até ali no relacionamento entre as pessoas, onde mais do que nunca
um deveria apoiar o outro e solidificar o amor na relação, a gente tem que
mostrar superioridade a companheira. Que coisa antagônica, fazemos o oposto e
ainda queremos que dê certo... Realmente somos um caso a ser estudado, numa
relação de igual, queremos se sobrepor ao nosso par e ainda queremos que dê
certo. Duelamos ao invés de abraçar....
Conheço
locais, onde são realizados os jogos de tênis e outros onde existem aulas para
ensinar a jogar tênis, desde a mais tenra idade, onde já é passado a mensagem
de como ser melhor que o oponente, como segurar uma raquete melhor, como
visualizar as fraquezas do outro jogador, mas eu desconheço alguma escola para
o ensino do frescobol, este não há ensinamentos, apenas um olhar, um batimento
acelerado e uma vontade enorme que o tempo não acabe, que ali possam jogar por toda
a eternidade, se oferecer riscos, sem sobressair, sem competir, mas brilhar
junto com o seu grande amor do outro lado.
Os
cenários poderiam ser imitados, num jogo de tênis estão os atletas nas arenas,
com os espectadores fazendo positivo ou negativo com o dedo da mão, vibrando
quando um atleta supera o outro, enquanto o frescobol é jogado num cenário
paradisíaco, numa areia de praia, com o sol a brilhar e as nuvens a festejar
aquele sublime relação. Nas reações de nossa sociedade, o tênis seria o palco
numa mesa de reunião de trabalho, enquanto o frescobol seria num linda cama com
um lareira a aquecer aquele momento magico de uma relação do casal. Num show do
Legião Urbana, Renato Russo para o espetáculo e manda a banda aumentar o som, diminuir
a guitarra, parar a bateria e após ele revela...que na banda ele pode tudo, ele
manda, mas no amor não há comando, ele é espontâneo, ele é quente, ele é uma
troca e não superação de um sobre o outro
Como
poderíamos ser ótimos jogadores de frescobol? Ensaiando jogadas, cedendo e
facilitando os lances, combinando e planejando junto as coisas, consertando o
erro da companheira, vibrando junto quando algo acontece de maneira correta,
incentivando se houver algum deslize, se preparando juntos e conhecendo os
limites e as qualidades da namorada, evitando expor ou deixar as fraquezas
apareçam na sua amada. Será que é tão difícil jogar frescobol? Será que não
aprenderemos o verdadeiro significado de uma relação? De um amor?
Nós que tanto sabemos, no próximo jogo, ou na próxima relação será tênis ou frescobol?
Muito bom... Bela comparação...
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