Uma família e tanto

Reis, Geni (in memorian) e sua prole. 


Nasci em uma família numerosa. E barulhenta.
Minha mãe teve 3 irmãs. Não é muito se você imaginar que ela nasceu em 1948 e foi a terceira da prole da dona Nica (Ana Margarida, era o seu nome). 
Meu pai, o primeiro da galera da dona Aparecida, teve 4 irmãos.

A dona Nica ganhou 14 netos.
Dona Aparecida, se eu não me perdi nas contas e esqueci algum primo, foi agraciada com 23 netos. Nenhuma delas viveu para conhecer os bisnetos, que também não são poucos!

Quando eu era mais nova, me aborrecia o fato de ter muitos irmãos. Somos cinco. Tudo era muito complicado com aquele monte de crianças. Menos dinheiro, nenhum luxo, casa bagunçada por causa dos menores e zero atenção para os mais velhos. Aliás, minha irmã e eu ajudávamos mei pai é minha mãe a cuidar dos pequenos. Isso mesmo. Temos a mania de individualizar pai e mãe. Os cinco, quando se referem à dona Geni e ao seu Reis, dizem Minha Mãe e Meu Pai. Como se não fossem os mesmos. hehehe

A nossa casa sempre recebia amigos e parentes. Mesmo com condições financeiras sempre na fronteira com o cheque especial (ou já devendo), alguns amigos e primos moraram conosco. Minha mãe gostava de casa cheia. E nós também! A residência sempre estava animada. Se não com as brigas e discussões, com cantoria e jogos. A Geni gostava muito de ouvir modas de viola. Se chegasse um violeiro despreparado, não haveria problema, ela oferecia o seu próprio violão. E não, ela não sabia tocar. 
Segui o padrão e não tenho qualquer habilidade musical ou manual. Minha irmã mais velha pinta em tecidos e sabe fazer bijuterias ou caixinhas decoradas. Até arrisca uns desenhos. Os dois rapazes receberam o dom da música. O terceiro elemento toca violão e guitarra, o quinto, teclado. A minha irmã - o quarto elemento, tem o dom de puxar briga. nervosa que nem ela só. Mas aprendeu a costurar. Se eu pegar numa máquina de costura, certamente costurarei os dedos. A minha parte artística se dá aqui, nas letras. Modéstia à parte, viu?

Voltando à família numerosa. Uma parte, a da dona Geni, mora em Goiás, aqui perto de Brasília e os visitávamos frequentemente. Era uma pequena cidade do interior, que hoje já não se pode chamar de pequena. E era uma festa quando chegávamos. Além dos montes de primos, havia os rapazes e moças da cidade, que vinham ver os bichinhos da cidade grande. Não raro ouvíamos a pergunta: - você vê o presidente? Minha avó Ana gostava de fazer biscoistos e pamonhas. Os netos e agregados estavam sempre por perto para ajudar e também para se deliciar com os quitutes. Infelizmente as minhas duas avós se foram cedo demais. Não chegaram a conhecer os bisnetos.

A outra metade, e a mais numerosa, fica a mil quilômetros de distância. A julgar pela nossa condição financeira, pelas carroças que possuíamos e as ótimas estradas brasileiras, vocês, caros leitores, já devem desconfiar: - impediam que nos víssemos com frequência. 
Mas quando dava certo, que alegria! Tinha festa, tinha bagunça, tinha comida mineira, biscoito de polvilho assassino que meu avô fritava. 
Tinha rancho, tinha Rio Grande, Cachoeira, churrasco de mineiro, meninada dormindo pelo chão e muitas risadas. 
Os irmãos do meu pai eram incríveis. Os três que conheci e convivi. Um deles - o Expedito - faleceu quando eu ainda tinha cinco anos. Outros dois, Tali e Osvaldo, perdi há dois anos. O caçula, Antonio, ainda está lá com sua alegria, energia, simplicidade e trapaça no truco. Nunca joguem com ele se não souberem levar a derrota na esportiva! 

As memórias da minha infância, adolescência e vida adulta convivendo em uma família com tanta gente, são incríveis. Passou da cizânia com os irmãos menores para uma saudade danada daquela casa viva, barulhenta, sem luxo, mas muito alegre.

Hoje eu entendo a razão de algumas mulheres optarem por uma família grande e também entendo o porquê delas se sentirem tristes quando os filhos crescem e vão embora.

Minha mãe, quando viva, conseguia juntar a família num almoço ou outro. Agora, cada um segue com sua família e, infelizmente, essa pandemia nos afastou uns dos outros e do nosso pai - que mora em outra cidade.

Eu sou abençoada por ter uma família grande. Grande em todos os sentidos. Sou uma mulher de família! E que família!! 

Aproveitem cada minuto com a sua. O tempo passa muito rápido e a saudade castiga.

Comentários

  1. Emocionante... Família nosso bem mais precioso... Bj.

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  2. Nossa! Família barulhenta é vida!!!! um saco às vezes, mas a gente sente falta... é deliciosa essa tua historia.
    Peraiiii, sua mãe chamava Geni?

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  3. Uma grande verdade Taís ! Família é essencial, temos que valorizar o tempo com a nossa ! Bjs

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