As redes sociais e o nosso ser influenciável - Taís Morais



Há mais ou menos 20 anos, a Internet ainda engatinhava no Brasil. As poucas plataformas existentes eram o AOL, Yahoo, hotmail e mais meia dúzia de sites pingados. 
A nossa vida era de longe influenciada pelas plataformas digitais até que começamos a depender delas para ler nossas correspondências, comunicados de trabalho e uma ou outra notícia.

Os buscadores eram fracos, mas começaram a ajudar - e muito - nas pesquisas que precisávamos fazer no nosso dia a dia. Eis que um dia, um russo inventou uma rede social que pegou no Brasil. O Orkut. Não que não existissem outras antes dela, havia o six degrees, o mySpace e outros. Mas o Orkut, aqui, fez sucesso. Aproximou parentes distantes e colegas que não víamos há tempos. Foi uma revolução!

Depois dele surgiram o Facebook, o Twitter, o Instagram e outras dezenas de redes sociais. As pessoas se entregaram de vez aos grupos digitais. O Whatsapp tomou o lugar do SMS, que já havia tomado lugar das ligações de voz. Tudo se tornou virtual. As relações sociais, comerciais e íntimas acontecem por meio digital. Quase ninguém se dá ao "trabalho" de telefonar para saber notícias. Manda um zap e tudo bem...

Em 2013, eu publiquei a minha dissertação de mestrado falando sobre a Influência do Facebook e do Twitter nos movimentos sociais.

O estudo foi inédito no Brasil e pioneiríssimo na UNB. As minhas fontes eram, na maior parte, autores estrangeiros. O meu objeto final de análise foi o movimento Ficha Limpa. A importância desse movimento foi enorme. Contudo, ele não começou nas redes digitais, sim nas redes sociais físicas. Por meio da correspondência eletrônica e, bem depois, das plataformas digitais, o movimento conseguiu as duas milhões de assinaturas necessárias para apresentar um projeto de lei para ser apreciado no Congresso Nacional.

O Projeto virou lei. A Lei da Ficha limpa - LC 135/2010. A LC trouxe um avanço importantíssimo para o combate à corrupção. Apesar de muito pouco aplicada, a lei existiu na sua plenitude por alguns anos, mas começou a ser desidratada ainda no governo PT. Hoje ela é, a cada dia, mais destroçada e esquecida. Os parlamentares brasileiros legislam em causa própria e para proteger seus pares corruptos e isso não é novidade para ninguém.

Mas por que eu quis falar sobre as redes sociais e o nosso ser influenciável?
- Porque observo e constato as mudanças de opiniões de inúmeras pessoas que "sigo" nas plataformas digitais.

Também tenho observado a disseminação de boatos e mentiras. Muita gente sequer se dá ao trabalho de checar a veracidade da informação que compartilha e isso é muito ruim. Muito prejudicial.

Certa vez, há muitos anos, eu ainda estava no primeiro ano de faculdade, assisti a uma palestra do Zuenir Ventura. Ainda estávamos engatinhando com as páginas de notícias e o, se não me engano, UOL, soltou uma matéria dizendo que ele havia sofrido um acidente e morreu numa estrada da região dos lagos, no Rio de Janeiro. Ele nos contou que a família leu a matéria enquanto ele, Zuenir, ainda se dirigia para um evento. "Não tinha celular e quando eu cheguei no hotel reservado já havia uma dezena de recados pedindo para eu ligar, se eu chegasse". 
Nunca esqueci desse relato, foi a primeira pessoa a contar sobre sua suposta morte e o desespero da família.

Essa é uma das péssimas influências que a pressa digital tem sobre nós. Ler e acreditar. Ler e repassar a notícia. Não ler e escrever sobre algum fato que somos absolutamente ignorantes.

A pior influência sobre nossos seres volúveis: - A propagação do ódio. 
Muitos dos discursos de ódio ganham força nas redes sociais porque o ser humano tem a tendência a odiar aquilo que ela não conhece. A detestar aquilo que alguém por quem tem empatia, detesta. Vejam o exemplo das discussões políticas. Paixões exacerbadas por políticos que só pensam em si....

Devemos ter, no nosso dia-a-dia, alguns cuidados nos ambientes virtuais, entre eles não permitir que o falso, o boato e o ódio passem por nós e se espalhem. É preciso um pouco de boa vontade e boa fé para transformar o tóxico ambiente virtual em um local onde as relações comerciais, sociais e íntimas sejam saudáveis. Não nos custa muito. Basta ter um filtro que transforme o mal no bem.

Boa semana para nós.


PS. Deixo aqui o link para o meu estudo sobre as redes sociais e os movimentos sociais. Claro que hoje já existem centenas, mas um estudo pioneiro sempre vale a pena ser lido.

    https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/15245/1/2013_TaisMoraisGuedes.pdf

#Fiqueemcasasepuder
#Respeitequemprecisatrabalhar
#Vacinajá
#Redessociais

Comentários

  1. Que maravilha. Texto brilhante... PS. Nos conhecemos através o Orkut....kkkk

    ResponderExcluir
  2. Excelente Taís ! Um alerta para todos nós, pensarmos muito antes de tomar qualquer atitude diante da leitura de qualquer coisa nas mídias sociais...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe aqui a sua essência